segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cristianismo 11

Livro de Jeremias 18,18-20.

Eles disseram: «Vinde e tramemos uma conspiração contra Jeremias porque não nos faltará a lei se faltar um sacerdote, nem o conselho se faltar um sábio, nem a palavra divina por falta de um profeta! Vinde, vamos difamá-lo e não prestemos atenção às suas palavras!»
Senhor, ouve-me! Escuta o que dizem os meus adversários.
É assim que se paga o bem com o mal? Abriram uma cova para me tirarem a vida. Lembra-te de que me apresentei diante de ti a fim de interceder por eles e afastar deles a tua cólera.
Livro de Salmos 31(30),5-6.14.15-16.
Livra-me da cilada que me armaram porque Tu és o meu refúgio.
Nas Tuas mãos entrego o meu espírito; SENHOR, Deus fiel, salva-me.
Na verdade, ouvi os gritos da multidão; o terror envolveu-me porque conspiraram contra mim e decidiram tirar-me a vida.
Mas eu confio em Ti, SENHOR e digo: "Tu és o meu Deus.

O meu destino está nas Tuas mãos; livra-me dos meus inimigos e perseguidores.
Evangelho segundo S. Mateus 20,17-28.
Ao subir a Jerusalém, pelo caminho, chamou à parte os Doze e disse-lhes:
«Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei que o vão condenar à morte.
Hão-de entregá-lo aos pagãos que o vão escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia.»
Aproximou-se então de Jesus Cristo a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante d'Ele para lhe fazer um pedido.
«Que queres?» perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à Tua direita e o outro à Tua esquerda, no Teu Reino.»
Jesus Cristo retorquiu:
«Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.»
Jesus Cristo replicou-lhes:
«Na verdade, bebereis o meu cálice; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.»
Ouvindo isto, os outros dez ficaram indignados com os dois irmãos.
Jesus Cristo chamou-os e disse-lhes:
«Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e
quem, no meio de vós
quiser ser o primeiro, seja vosso servo (aquele que serve; presta serviço ao outros. O princípio da democracia).
Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.»


Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Confissões, XIII, 9

«Vamos subir a Jerusalém»
Dá-Te a mim, meu Deus, dá-Te sempre a mim. [...] Descansamos no dom do Teu Espírito; aí Te gozamos, aí está o nosso bem e o nosso repouso. Aí o amor nos educa e o Teu Espírito que é bom, exalta a nossa baixeza, retirando-a das portas da morte (Sl 9, 14). Na boa vontade, encontramos a paz.
Um corpo, pelo seu peso, tende para o seu lugar próprio; o peso não significa necessariamente ir para baixo, mas para o lugar próprio de cada coisa. O fogo tende para cima, a pedra para baixo [...], cada coisa para o seu lugar próprio; o óleo sobe para cima da água, a água desce para baixo do óleo. Se uma coisa não está no seu lugar, não está em repouso; mas quando encontra o seu lugar, fica em repouso.
O meu peso é o meu amor: é ele que me leva para onde me leva. O Teu dom inflama-nos e leva-nos para cima; ele abrasa-nos e nós partimos. [...] O Teu fogo, o Teu fogo bom, faz-nos arder e nós vamos, subimos para a paz da Jerusalém celeste – porque encontrei a minha alegria quando me disseram: «Vamos para a casa do Senhor!» (Sl 121, 1). É para aí que a boa vontade nos conduz por ser o nosso lugar, aí onde não desejaremos mais nada do que assim permanecer para toda a eternidade.

Livro de Jeremias 17,5-10.
Isto diz o Senhor: Maldito aquele que confia no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do Senhor.
Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o sente, pois habita na secura do deserto, numa terra salobra onde ninguém mora.
Bendito o homem que confia no Senhor, que tem no Senhor a sua esperança.
É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano e não deixará de dar fruto.
Nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer?
Eu, o Senhor, penetro os corações e sondo as entranhas a fim de recompensar cada um pela sua conduta e pelos frutos das suas acções.

Livro de Salmos 1,1-2.3.4.6.
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem toma parte na reunião dos libertinos;
antes põe o seu enlevo na lei do SENHOR e nela medita dia e noite.
É como a árvore plantada à beira da água corrente: dá fruto na estação própria e a sua folhagem não murcha; em tudo o que faz, é bem sucedido.
Mas os ímpios não são assim! São como a palha que o vento leva.

O SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à perdição.

Evangelho segundo S. Lucas 16,19-31.
«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes.
Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas.
Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas.
Ora o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio.
Então ergueu a voz e disse: 'Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua porque estou atormentado nestas chamas.'
Abraão respondeu-lhe: 'Filho,
lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora ele é consolado, enquanto tu és atormentado.
Além disso, entre nós e vós há um grande abismo de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo nem tão pouco vir daí para junto de nós.'
O rico insistiu: 'Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos;
que os previna a fim de que não venham também para este lugar de tormento.'
Disse-lhe Abraão: 'Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!'
Replicou-lhe ele: 'Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.'
Abraão respondeu-lhe: 'Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.'»

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Não Há Maior Amor

«Um pobre [...] jazia ao seu portão»
Jesus Cristo disse: «Tive fome e destes-Me de comer» (Mt 25, 35). Teve fome não só de pão, mas também da estima acolhedora que nos permite sentirmo-nos amados, reconhecidos, sermos alguém aos olhos de outrem. Foi desprovido não só da Sua roupa, mas também da dignidade e do respeito humano pela grande injustiça cometida para com o pobre que é precisamente o ser-se desprezado por ser pobre. Foi privado não só de um tecto, mas também sofreu as privações por que passam os encarcerados, os rejeitados e os escorraçados, aqueles que vagueiam pelo mundo sem ter ninguém que se ocupe deles.
Ao desceres a rua, sem outro propósito senão esse, talvez atentes naquele homem, ali na esquina e vás ao seu encontro. Talvez ele fique de pé atrás, mas tu permaneces lá, diante dele, na sua frente. Tens de irradiar a presença que trazes dentro de ti (Jesus Cristo) com o amor e a atenção para com o homem a quem te diriges. E porquê? Porque, para ti, se trata de Jesus Cristo. Sim, é Jesus Cristo, mas não pode receber-te em Sua casa — eis porque tens de ser tu a dirigir-te a Ele. Ele está escondido ali, naquela pessoa. Jesus Cristo, oculto no mais pequenino dos irmãos (Mt 25, 40), não só cheio de fome por um bocado de pão, mas também por amor, por reconhecimento, por ser tido como alguém com valor.

Livro de Isaías 7,10-14.
O SENHOR mandou dizer de novo a Acaz:
«Pede ao SENHOR, teu Deus, um sinal quer no fundo dos abismos quer lá no alto dos céus.»
Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o SENHOR.»
Isaías respondeu: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus?
Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel.

Livro de Salmos 40(39),7-8.9.10.11.
Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas abriste-me os ouvidos para escutar; não pediste holocaustos nem vítimas.
Então eu disse: "Aqui estou! No Livro da Lei está escrito aquilo que devo fazer."
Esse é o meu desejo, ó meu Deus; a tua lei está dentro do meu coração.
Anunciei a Tua justiça na grande assembleia; Tu bem sabes, SENHOR, que não fechei os meus lábios.
Não escondi a Tua justiça no fundo do coração; proclamei a Tua fidelidade e a Tua salvação. Não ocultei à grande assembleia a Tua bondade e a Tua verdade.

Carta aos Hebreus 10,4-10.
(...) uma vez que é impossível que o sangue dos touros e dos bodes apague os pecados.
Por isso ao entrar no mundo, Jesus Cristo diz:
Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo.
Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados
.
Então, Eu disse: Eis que venho – como está escrito no Livro a meu respeito – para fazer, ó Deus, a Tua vontade.
Disse primeiro: Não quiseste nem Te agradaram sacrifícios, oferendas e holocaustos pelos pecados – e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei.
Disse em seguida: Eis que venho para fazer a Tua vontade.
Suprime assim o primeiro culto, para instaurar o segundo.
E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre.

Evangelho segundo S. Lucas 1,26-38.
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.»
Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação.
Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus.
Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho ao qual porás o nome de Jesus.
Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David,
reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?»
O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus.
Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril,
porque nada é impossível a Deus.»
Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
Tertuliano (c. 155-v. 220), teólogo A Carne de Jesus Cristo, 17; PL 2, 781 (cf. SC 126, p. 281)

«Faça-se em mim segundo a tua palavra»
Porque é que o Filho de Deus nasceu de uma Virgem? [...] Era necessário um modo totalmente novo de nascer para Aquele que ia consagrar uma nova ordem de nascimento. Isaías tinha profetizado que o Senhor anunciaria esta maravilha através de um sinal. Que sinal? «Eis que uma virgem vai conceber e dará à luz um filho.» Sim, a Virgem concebeu e deu à luz o Emanuel, Deus connosco (Is 7, 14; Mt 1, 23). Eis a nova ordem de nascimento: o homem nasce em Deus porque Deus nasce no homem; Deus faz-Se (incarna na) carne para regenerar a carne pela semente nova do Espírito e lavar todas as manchas passadas.
Toda esta nova ordem foi prefigurada no Antigo Testamento porque na intenção divina o primeiro homem nasceu para Deus através de uma virgem. Com efeito, a terra era ainda virgem, o trabalho do homem não a tinha tocado, a semente não tinha sido ainda lançada quando Deus a tomou para dar forma ao homem e torná-lo «um ser vivo» (Gn 2, 5.7). Por conseguinte, se o primeiro Adão foi moldado de terra, é justo que o segundo, a quem o apóstolo Paulo chama «o novo Adão», seja retirado por Deus de uma terra virgem, ou seja, de uma carne cuja virgindade permanecia inviolada, para se tornar «Espírito que vivifica» (1Cor 15, 45). [...]
Quando quis recuperar «a Sua imagem e a Sua semelhança» (Gn 1, 26) caída sob o poder do demónio, Deus agiu de forma igual à do momento em que o criou. Eva era ainda virgem quando acolheu a palavra que originaria a morte; por conseguinte, seria também de uma virgem que devia descer a Palavra de Deus que ergueria o edifício da Vida. [...] Eva confiou na serpente; Maria teve fé em Gabriel. O pecado que Eva, crendo, cometeu, foi Maria, crendo, que o apagou. [...] A palavra do diabo foi para Eva a semente da sua humilhação e das suas dores de parto (Gn 3, 16) e ela trouxe ao mundo o assassino do seu irmão (4, 8). Pelo contrário, Maria trouxe ao mundo um Filho que haveria de salvar Israel, Seu irmão.

Livro de Miqueias 7,14-15.18-20.
Apascenta com o cajado o teu povo, o rebanho da tua herança, os que habitam isolados nas florestas no meio dos prados. Sejam eles apascentados em Basan e Guilead, como nos dias antigos.
Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos tiraste do Egipto.
Qual é o Deus que, como Tu, apaga a iniquidade e perdoa o pecado do resto da sua herança?
Não se obstina na sua cólera porque prefere a bondade.
Uma vez mais, terá compaixão de nós, apagará as nossas iniquidades e lançará os nossos pecados ao fundo do mar.
Mostrarás a tua fidelidade a Jacob e a tua bondade a Abraão, como juraste a nossos pais, desde os tempos antigos.

Livro de Salmos 103(102),1-2.3-4.9-10.11-12.
Bendiz, ó minha alma, o SENHOR e todo o meu ser louve o Seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o SENHOR e não esqueças nenhum dos Seus benefícios.
Ele que perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades.
Ele que resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e de ternura.

Não está sempre a repreender-nos, nem a Sua ira dura para sempre.
Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas.
Como é grande a distância dos céus à Terra, assim são grandes os Seus favores para os que O adoram.
Como o Oriente está afastado do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados.

Evangelho segundo S. Lucas 15,1-3.11-32.
Aproximavam-se d'Ele todos os cobradores de impostos e pecadores para O ouvirem.
Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.»
Jesus Cristo propôs-lhes, então, esta parábola:
Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.' E o pai repartiu os bens entre os dois.
Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada.
Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações.
Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos.
Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
E, caindo em si, disse: 'Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância e eu aqui a morrer de fome!
Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.'
E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos.
O filho disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.'
Mas o pai disse aos seus servos: 'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos
porque
este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.' E a festa principiou.
Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
Disse-lhe ele: 'O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo porque chegou são e salvo.'
Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse.
Respondendo ao pai, disse-lhe: 'Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos;
e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.'
O pai respondeu-lhe: 'Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.'»
Isaac de l'Étoile (?-c. 1171), monge cistercense 2º Sermão para o dia de Todos os Santos §§ 13-20
(a partir da trad. Brésard, 2000 ans A, p. 84)

«E caindo em si, disse, [...]: e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai»
«Felizes os que choram porque serão consolados» (Mt 5, 4). Com estas palavras, o Senhor quer fazer-nos compreender que o caminho da alegria são as lágrimas. Pela desolação, chega-se à consolação; é perdendo a vida que a encontramos, rejeitando-a que a possuímos, odiando-a que a amamos, desprezando-a que a salvamos (cf Lc 9, 23ss.). Se queres conhecer-te a ti mesmo e superar-te, entra dentro de ti e não te procures fora de ti. [...] Por conseguinte, cai em ti, pecador, cai onde existes verdadeiramente: no teu coração. Exteriormente, és um animal à imagem do mundo [...]; interiormente, és um homem, à imagem de Deus (Gn 1, 26) e por isso capaz de ser deificado.
Será por isso, irmãos, que o homem que cai em si se sente distante como o filho pródigo, numa região diferente, numa terra estrangeira, onde é maltratado e chora ao lembrar-se de seu pai e da sua pátria? [...] «Adão, onde estás?» (Gn 3, 9) Talvez ainda na sombra para não te veres a ti mesmo: cosendo as folhas da vaidade umas às outras para cobrires a tua vergonha (Gn 3, 7), olhando o que está em teu redor e o que é teu porque os teus olhos são grandes aberturas para tais coisas. Mas olha para dentro de ti, olha para ti: é aí que se encontra o teu maior motivo de vergonha. [...]
É evidente, irmãos: em parte vivemos exteriormente a nós. [...] É por isso que a Sabedoria tem sempre no coração o convite para a casa do luto antes de o fazer para a casa do banquete (Eccl 7, 3), ou seja, chama para dentro de si mesmo o homem que estava fora de si próprio, dizendo: «Felizes os que choram» e noutra passagem: «Ai de vós, os que agora rides» (Lc 6, 25). [...] Meus irmãos, choremos na presença do Senhor: que a Sua bondade O leve a perdoar-nos. [...] Felizes os que choram, não porque choram, mas porque serão consolados. As lágrimas são o caminho; a consolação é a bem-aventurança.

Livro de 2º Reis 5,1-15.
Naamã, general dos exércitos do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante do seu amo e era muito estimado porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem robusto e valente, mas leproso.
Ora tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem donzela que ficou ao serviço da mulher de Naamã.
Ela disse à sua senhora: «Ah, se o meu amo fosse ter com o profeta que vive na Samaria, certamente ficava curado da lepra!»
Naamã foi contar ao seu soberano aquilo que dissera a jovem israelita.
O rei da Síria respondeu-lhe: «Vai, que eu vou escrever uma carta ao rei de Israel.» Naamã partiu, levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa.
Levou ao rei de Israel uma carta escrita nestes termos: «Juntamente com esta carta, aí te mando o meu servo Naamã para que o cures da sua lepra.»
Ao terminar de ler a carta, o rei de Israel rasgou as suas vestes e exclamou: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida de modo que me enviem alguém para eu o curar da lepra? Reparai e vede como ele busca pretextos contra mim.»
Mas Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei rasgara as suas vestes e mandou-lhe dizer: «Porque rasgaste as tuas vestes? Que ele venha ter comigo e saberá que há um profeta em Israel.»
Chegou, pois, Naamã com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu.
Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: «Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.»
Naamã, despeitado, retirou-se, dizendo: «Pensava que ele sairia a receber-me e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, colocaria a sua mão no lugar infectado e me curaria da lepra.
Porventura, os rios de Damasco, o Abaná e o Parpar, não são acaso melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia lavar neles e ficar limpo?» E, virando costas, retirou-se indignado.
Mas os seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias fazer? Quanto mais agora, ao dizer-te: ‘Lava-te e ficarás curado.’»
Naamã desceu ao Jordão e lavou-se sete vezes como lhe ordenara o homem de Deus e a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.
Voltou, então, ao homem de Deus com toda a sua comitiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo.»

Livro de Salmos 42(41),2.3.43(42),3.4.
Como suspira a corça pelas águas correntes, assim a minha alma suspira por ti, ó Deus.
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando poderei contemplar (a face de –
Deus é invisível) Deus?
Envia a Tua luz e a Tua verdade para que elas me guiem e conduzam à Tua montanha santa, à Tua morada.
Eu irei ao altar de Deus, ao Deus que é a alegria da minha vida. Ao som da harpa Te louvarei, ó Deus, meu Deus.

Evangelho segundo S. Lucas 4,24-30.
Jesus Cristo acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a Terra;
contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon.
Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naamã.»
Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor.
E, erguendo-se, lançaram-n'O fora da cidade e levaram-n'O ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada a fim de O precipitarem dali abaixo.
Mas, passando pelo meio deles, Jesus Cristo seguiu o Seu caminho.

Santo Ambrósio (340 ?-397), bispo de Milão e Doutor da Igreja Os Mistérios, § 16. 18-21
(a partir da trad. de José de Leão Cordeiro, S. N. L., 2003, p. 530-1/SC 25, p. 112)

A Quaresma leva à ressurreição pelo baptismo
Naamã era sírio e estava leproso, sem que ninguém o pudesse curar. Então uma jovem prisioneira disse-lhe que havia em Israel um profeta que podia curá-lo da lepra. [...] Já é tempo de descobrires quem era aquela jovem prisioneira. Era a figura da assembleia mais nova de entre as nações, isto é, da Igreja do Senhor. Antes quando não possuía ainda a liberdade da graça, fora humilhada pelo cativeiro do pecado. Mas a seu conselho, este povo que não era ainda um povo escutou a palavra dos profetas, da qual duvidara durante muito tempo. Em seguida, quando acreditou que devia segui-la, o povo foi purificado de todo o contágio do pecado. Naamã duvidara antes de ser curado; mas tu já foste curado e por isso não deves duvidar.
Já antes te foi dito que não devias acreditar apenas no que vês ao aproximares-te do baptistério para que digas: «É este o «grande mistério que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais passou pelo pensamento do homem» (1Cor 2, 9)? Eu vejo as águas que via todos os dias. Vão purificar-me estas águas a que tantas vezes desci sem nunca ter sido purificado?» Deves reconhecer que a água não purifica sem o Espírito. Por isso, leste que no baptismo as três testemunhas são uma só: a água, o sangue e o Espírito (1Jo 5, 7-8) porque, se prescindires de uma delas, já não há sacramento do baptismo. Que é a água sem a cruz de Jesus Cristo? É um elemento comum, sem nenhuma eficácia sacramental. Mas também é verdade que sem a água não há mistério da regeneração: «quem não renascer da água e do Espírito não entrará no reino de Deus» (Jo 3, 5). Também o catecúmeno acredita na cruz do Senhor Jesus Cristo com a qual é assinalado; mas, se não for baptizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, não pode receber o perdão dos pecados nem obter o dom da graça espiritual.
Por isso o sírio Naamã mergulhou sete vezes, segundo a Lei; tu, porém, foste baptizado em nome da Trindade. [...] Proclamaste a tua fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. [...] Morreste para o mundo, ressuscitaste para Deus e, de certo modo sepultado naquele elemento do mundo, morto para o pecado, ressuscitaste para a vida eterna (Rom 6, 4).

Livro de Deuteronómio 4,1.5-9.
«Agora, Israel, ouve as leis e os preceitos que eu hoje vos ensino. Ponde-os em prática para que vivais e chegueis a possuir a terra que o Senhor, Deus dos vossos pais, vos há-de dar.
Vede: ensinei-vos leis e preceitos como o Senhor, meu Deus, me ordenou; assim fareis na terra que ides possuir.
Observai-os e ponde-os em prática porque isso manifestará a vossa sabedoria e a vossa inteligência aos olhos dos povos que, ao terem conhecimento de todas estas leis, dirão: ‘Que povo sábio e inteligente é esta grande nação!’
Com efeito, que grande nação haverá que tenha um deus tão próximo de si como está próximo de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?
E que grande nação haverá que possua leis e preceitos tão justos como esta lei que eu hoje vos apresento?
Toma, pois, cuidado contigo! Guarda-te bem de esquecer os factos que os teus olhos viram; que eles nunca se afastem do teu coração em todos os dias da tua vida. Ensina-os aos teus filhos e aos filhos dos teus filhos.

Livro de Salmos 147,12-13.15-16.19-20.
Glorifica, Jerusalém, o SENHOR; louva, Sião, o teu Deus.
Ele reforçou os ferrolhos das tuas portas e abençoou os teus filhos dentro de ti;
Ele manda as suas ordens à Terra e a Sua palavra corre velozmente;
faz cair a neve, branca como a lã, espalha a geada como se fosse cinza;
Ele revela os Seus planos a Jacob, os Seus preceitos e as Suas sentenças a Israel.
Não fez assim com nenhum outro povo, não lhes deu a conhecer os Seus mandamentos.

Evangelho segundo S. Mateus 5,17-19.
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição.
Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a Terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas
aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu.
São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja Homilia 12; PG 77, 1041ss.
(a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 174)

«Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição»
Vimos Jesus Cristo obedecer às leis de Moisés, o quer dizer que Deus, o legislador, se submetia, como um homem, às Suas próprias leis. É o que nos ensina São Paulo [...]: «Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei» (Gal 4, 4-5). Por conseguinte, Jesus Cristo resgatou da maldição da Lei os que a ela estavam sujeitos, mas que não a observavam. De que modo os resgatou? Aperfeiçoando esta Lei; dito de outro modo, a fim de apagar a transgressão da qual Adão se tornou culpado, Ele mostrou-Se obediente e dócil para com Deus (e o ) Pai em nosso lugar porque está escrito: «Como pela desobediência de um só, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornaram justos» (Rom 5, 19). Connosco, Ele curvou a cabeça perante a Lei e fê-lo segundo o plano divino da Incarnação. Com efeito, «convém que cumpramos assim toda a justiça» (Mt 3, 15).
Depois de ter tomado completamente a condição de servo (Fil 2, 7), precisamente porque a Sua condição humana o agregava ao número dos que suportavam o jugo, pagou o montante do imposto aos cobradores como toda a gente ainda que, por natureza, e como Filho, estivesse dispensado disso. Por conseguinte, quando tu O vês observar a Lei, não fiques chocado, não ponhas no rol de servos Aquele que é livre, mas avalia pelo pensamento a profundidade de um tal desígnio.

Livro de Oseias 14,2-10.
Volta, Israel, ao SENHOR teu Deus porque caíste por causa dos teus pecados.
Tomai convosco palavras de arrependimento. E voltai ao SENHOR, dizendo-lhe: «Perdoa todos os nossos pecados e acolhe favoravelmente o sacrifício que oferecemos, a homenagem dos nossos lábios.
A Assíria não nos salvará; não montaremos a cavalo e nunca mais chamaremos nosso Deus a uma obra das nossas mãos, pois só junto de ti o órfão encontra compaixão.»
Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração porque a minha cólera se afastou deles.
Serei para Israel como o orvalho: florescerá como um lírio e deitará raízes como um cedro do Líbano.
Os seus ramos estender-se-ão ao longe, a sua opulência será como a da oliveira, o seu perfume como o odor do Líbano.
Regressarão os que habitavam à sua sombra; renascerão como o trigo, darão rebentos como a videira e a sua fama será como a do vinho do Líbano.
Efraim, que tenho Eu ainda a ver com os ídolos? Sou Eu quem responde e olha por ele. Eu sou como um cipreste sempre verdejante; é de mim que procede o teu fruto.
Quem é sábio para compreender estas coisas, inteligente para as conhecer? Porque os caminhos do SENHOR são rectos, os justos andarão por eles, mas os pecadores tropeçarão neles.

Livro de Salmos 81(80),6-8.9.10-11.14.17.
(...) Lei que Ele deu a José, quando saiu da terra do Egipto. Ouço uma língua desconhecida, que diz:
"Aliviei os seus ombros do fardo, as suas mãos livraram-se de carregar o cesto.
Na angústia chamaste por mim e Eu salvei-te, respondi-te escondido no trovão, pus-te à prova junto das águas de Meribá.
Ouve, meu povo, a minha advertência; oxalá, Israel, me prestes ouvidos:

'Não terás contigo um deus estrangeiro, nem te prostrarás diante de um deus estranho.
Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirou da terra do Egipto. Abre a tua boca e Eu enchê-la-ei.'
Se o meu povo me tivesse escutado! Se Israel tivesse seguido os meus caminhos!
Alimentaria o meu povo com a flor do trigo e saciá-lo-ia com o mel silvestre."

Evangelho segundo S. Marcos 12,28-34.
Aproximou-se dele um escriba que os tinha ouvido discutir e, vendo que Jesus Cristo lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?»
Jesus Cristo respondeu:
«O primeiro é: Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor;
amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças.
O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.»

O escriba disse-lhe: «Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e não existe outro além dele;
e amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.»
Vendo que ele respondera com sabedoria, Jesus Cristo disse: «Não estás longe do Reino de Deus.» E ninguém mais ousava interrogá-lo.

Concílio Vaticano II
Constituição dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», § 42

Todos os cristãos são chamados à santidade
«Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo. 4, 16). Ora Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado (cf. Rom. 5, 5). Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor d'Ele. Para que esta caridade, como boa semente, cresça e frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de bom grado a palavra de Deus e cumprir, com a ajuda da graça, a Sua vontade, participar frequentemente nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, e nas funções sagradas, dando-se continuamente à oração, à abnegação de si mesmo, ao serviço efectivo de seus irmãos e a toda a espécie de virtude; pois a caridade, vínculo da perfeição e plenitude da lei (cf. Col. 3, 14; Rom. 13, 10), é que dirige todos os meios de santificação, os informa e leva a seu fim. É, pois, pela caridade para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.

Livro de 1º Samuel 16,1.6-7.10-13.
O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.»
Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor.»
Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa;
o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração
Jessé apresentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.»
E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.» Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes de ele ter chegado.»
Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.»
Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na presença dos seus irmãos. E a partir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá.
Livro de Salmos 23(22),1-3.4.5.6.
O SENHOR é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo. A Tua vara e o Teu cajado dão-me confiança.

Preparas a mesa para mim à vista dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; a minha taça transbordou.
Na verdade, a Tua bondade e o Teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.

Carta aos Efésios 5,8-14.
É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz –
pois
o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade
procurando discernir o que é agradável ao Senhor.
E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, denunciai-as.
Porque o que por eles é feito às escondidas até dizê-lo é vergonhoso.
Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz;
pois tudo o que é posto às claras, é luz. Por isso se diz: «Desperta, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e
Cristo brilhará sobre ti».

Evangelho segundo S. João 9,1-41.
Ao passar, Jesus Cristo viu um homem cego de nascença.
Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: «Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele ou os seus pais?»
Jesus Cristo respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus.
Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia.
Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar (nem os batismos cristãos).
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.»
Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama e disse-lhe: «Vai, lava-te na piscina de Siloé» que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver.
Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam: «Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?»
Uns diziam: «É ele mesmo!» Outros afirmavam: «De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia: «Sou eu mesmo!»
Então perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?»
Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: 'Vai à piscina de Siloé e lava-te.' Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!»
Perguntaram-lhe: «Onde está Ele?» Respondeu: «Não sei.»
Levaram aos fariseus o que fora cego.
O dia em que Jesus Cristo tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado.
Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes: «Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.»
Diziam então alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam: «Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles.
Perguntaram, então, novamente ao cego: «E tu que dizes dele por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu: «É um profeta!»
Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse até que chamaram os pais dele.
E perguntaram-lhes: «É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?»
Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego;
mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.»
Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias.
Por isso é que os pais disseram: 'Já tem idade, perguntai-lhe a ele'.
Chamaram então novamente o que fora cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!»
Ele, porém, respondeu: «Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.»
Eles insistiram: «O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?»
Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse e não me destes ouvidos porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos Seus discípulos?»
Então, injuriaram-no dizendo-lhe: «Discípulo d'Ele és tu! Nós somos discípulos de Moisés!
Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!» Replicou-lhes o homem:
«Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é e me tenha dado a vista!
Sabemos que Deus não atende os pecadores, mas se alguém honrar a Deus e cumprir a sua vontade, Ele o atende.
Jamais se ouviu dizer que alguém tenha dado a vista a um cego de nascença.
Se este não viesse de Deus, não teria podido fazer nada.»
Responderam-lhe: «Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições?» E puseram-no fora.
Jesus Cristo ouviu dizer que o tinham expulsado e, quando o encontrou, disse-lhe: «Tu crês no Filho do Homem?»
Ele respondeu: «E quem é, Senhor, para eu crer n'Ele?»
Disse-lhe Jesus Cristo: «Já o viste. É aquele que está a falar contigo.»
Então, exclamou: «Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante dele.
Jesus Cristo declarou: «
Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem, vejam e os que vêem, fiquem cegos.»
Alguns fariseus que estavam com Ele ouviram isto e perguntaram-lhe: «Porventura nós também somos cegos?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «Se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.»
Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja Comentário do Diatesseron, 16, 28-31
(a partir da trad. SC 121, pp. 299ss.)

«Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam»
«Fez lama com a saliva e ungiu-lhe os olhos». E a luz jorrou da terra, como no começo, quando [...] as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus Se movia sobre a superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz» e a luz foi feita (Gn 1, 2-3). Assim curou um defeito que existia desde a nascença para mostrar que Ele, cuja mão terminava aquilo que faltava à natureza, era Aquele que, com a Sua mão, tinha dado origem à Criação, no princípio. E como se recusavam a crer que Ele era antes de Abraão (Jo 8, 57), provou com esta acção que era o Filho d'Aquele que, com a Sua mão, «formou o homem do pó da terra» (Gn 2, 7).
Ele fez isso para aqueles que procuravam os milagres a fim de acreditarem: «Os judeus pedem sinais» (1Cor 1, 22). Não foi a piscina de Siloé que abriu os olhos ao cego tal como não foram as águas do Jordão que purificaram Naamã (2Rs 5, 14): foi a ordem do Senhor que realizou tudo. Mais do que isso, não é a água do nosso baptismo, mas os nomes da Trindade que se pronunciam sobre ela que nos purificam. Ele ungiu-lhe os olhos com lama para que os fariseus pudessem limpar a cegueira do seu coração. [...] Aqueles que viam a luz física foram conduzidos por um cego que via a luz do espírito; e, na sua noite, o cego era conduzido por aqueles que viam exteriormente, mas que eram espiritualmente cegos.
O cego lavou a lama dos seus olhos e viu-se a si próprio; os outros lavaram a cegueira do coração e examinaram-se a si mesmos. Assim ao abrir exteriormente os olhos de um cego, Nosso Senhor abria secretamente os olhos de muitos outros cegos. [...] Nestas poucas palavras do Senhor estavam escondidos tesouros admiráveis e, nesta cura, estava esboçado um símbolo: Jesus Cristo, o Filho do Criador.


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