segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cristianismo 14

Livro de Génesis 17,3-9.

Abrão prostrou-se com o rosto por terra e Deus disse-lhe:
«A aliança que faço contigo é esta:
serás pai de inúmeros povos.
Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos.
Tornar-te-ei extremamente fecundo, farei que de ti nasçam povos e terás reis por descendentes.
Estabeleço a minha aliança contigo e com a tua posteridade, de geração em geração; será uma aliança perpétua, em virtude da qual
Eu serei o teu Deus e da tua descendência.
Dar-te-ei, a ti e à tua descendência depois de ti, o país em que resides como estrangeiro, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua e serei Deus para eles.»
Deus disse a Abraão: «Da tua parte, cumprirás a minha aliança, tu e a tua descendência, nas futuras gerações.

Livro de Salmos 105(104),4-5.6-7.8-9.
Recorrei ao SENHOR e ao Seu poder e buscai sempre a Sua presença.
Recordai as maravilhas que Ele fez, os Seus prodígios e as sentenças da Sua boca,
vós, descendentes de Abraão, Seu servo, filhos de Jacob, Seu escolhido.
Ele é o SENHOR, nosso Deus, e governa sobre a Terra!

Ele recordará sempre a Sua aliança, a promessa que jurou manter por mil gerações,
pacto que fez com Abraão e aquele juramento que fez a Isaac.

Evangelho segundo S. João 8,51-59.
E Jesus Cristo afirmou: Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá
Disseram-lhe, então, os judeus: «Agora é que estamos certos de que tens demónio! Abraão morreu, os profetas também e Tu dizes: 'Se alguém observar a minha palavra, nunca experimentará a morte'?
Porventura és Tu maior que o nosso pai Abraão que morreu? E os profetas morreram também! Afinal, quem é que Tu pretendes ser?»
Jesus Cristo respondeu: «Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai, de quem dizeis: 'É o nosso Deus'; e, no entanto, não o conheceis. Eu é que o conheço; se dissesse que não o conhecia, seria como vós: um mentiroso. Mas Eu conheço-O e observo a Sua palavra.
Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz.»
Disseram-lhe, então, os judeus: «
Ainda não tens cinquenta anos (pelo calendário lunar) e viste Abraão?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: antes de Abraão existir, Eu sou!»
Então agarraram em pedras para lhe atirarem. Mas Jesus Cristo escondeu-se e saiu do templo.

Santo Ireneu de Lyon (c. 130 - c. 208), bispo, teólogo e mártir Contra as heresias IV, 5-7 (a partir da trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 146; cf SC 100)

«Abraão viu o Meu dia e ficou feliz»
Como Abraão era profeta, viu no Espírito o dia da vinda do Senhor e o desígnio da Sua Paixão, pela qual ele próprio e todos os que, como ele, criam em Deus seriam salvos. E estremeceu com grande alegria. O Senhor não era portanto desconhecido de Abraão, pois que ele desejou ver o Seu dia. [...] Ele desejou ver esse dia a fim de poder, também ele, abraçar Cristo; tendo-o visto de maneira profética pelo Espírito, exultou.
Foi por isso que Simeão, que era da sua posterioridade, realizou a alegria do patriarca e disse: «Agora, Mestre soberano, podes deixar o Teu servo partir em paz segundo a Tua promessa porque os meus olhos viram a Tua salvação que preparaste em favor de todos os povos» (Lc 2, 29ss.) [...] E Isabel disse [segundo certos manuscritos]: «A minha alma glorifica o Senhor, o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador». A exultação de Abraão descia assim sobre os que viam Jesus Cristo e que acreditavam n'Ele. E dos seus filhos, esta exultação subia para Abraão. [...]
Foi pois com toda a justiça que o Senhor deu testemunho dele dizendo: «Abraão, vosso Pai, exultou com o pensamento de ver o Meu dia: viu-o e regozijou-se» (Mt 3, 9). E não foi só a propósito de Abraão que o disse, mas de todos os que, desde o início, adquiriram o conhecimento de Deus e profetizaram a vinda de Cristo. Porque eles receberam esta revelação da parte do próprio Filho, esse Filho que, nestes tempos que são os últimos, Se tornou visível e palpável e conversou com os homens para suscitar das pedras, filhos de Abraão e tornar a sua descendência semelhante às estrelas do céu (Gn 15, 5).

Livro de Jeremias 20,10-13.
Ouvia invectivas da multidão: «Cerco de terror! Denunciai-o! Vamos denunciá-lo!» Os que eram meus amigos espiam agora os meus passos: «Se o enganarmos, triunfaremos dele e dele nos vingaremos.»
O Senhor, porém, está comigo como poderoso guerreiro. Por isso os meus perseguidores serão esmagados e cobertos de confusão porque não hão-de prevalecer. A sua ignomínia nunca se apagará da memória.
Mas Tu, Senhor do universo, examinas o justo, sondas os rins e os corações. Que eu possa contemplar a Tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causa!
Cantai ao Senhor, glorificai o Senhor porque salvou a vida do pobre da mão dos malvados.

Livro de Salmos 18(17),2-3.4.5-6.7.
Eu te amo (adoro), ó SENHOR, minha força.
O SENHOR é a minha rocha, fortaleza e protecção; o meu Deus é o abrigo em que me refugio, o meu escudo, o meu baluarte de defesa.
Invoquei o SENHOR que é digno de louvor e fui salvo dos meus inimigos.
Cercaram-me as ondas da morte e as vagas destruidoras encheram-me de terror;
envolveram-me os laços do Abismo e lançaram-me as suas redes fatais.
Na minha angústia, invoquei o SENHOR e gritei pelo meu Deus. Do seu santuário, Ele ouviu a minha voz; o meu clamor chegou aos Seus ouvidos.

Evangelho segundo S. João 10,31-42.
Então, os judeus voltaram a pegar em pedras para O apedrejarem.
Jesus Cristo replicou-lhes: «
Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai; por qual dessas obras me quereis apedrejar?»
Responderam-lhe os judeus: «Não te queremos apedrejar por qualquer obra boa, mas por uma blasfémia: é que Tu, sendo um homem, a ti próprio te fazes Deus.»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «
Não está escrito na vossa Lei: 'Eu disse: vós sois deuses'?
Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus e a Escritura não se pode pôr em dúvida
a mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: 'Tu blasfemas' por Eu ter dito: 'Sou Filho de Deus'?
Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim;
mas se as faço,
embora não queirais acreditar em mim, acreditai nas obras e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e Eu no Pai
Por isso procuravam de novo prendê-lo, mas Ele escapou-se-lhes das mãos.
Depois Jesus Cristo voltou a retirar-se para a margem de além-Jordão, para o lugar onde ao princípio João tinha estado a baptizar, e ali se demorou (acredito que para o eremitério onde viveu João Batista).
Muitos vieram ter com Ele e comentavam: «Realmente João não realizou nenhum sinal milagroso, mas tudo quanto disse deste homem era verdade.»
E muitos ali creram n'Ele.

São Tomás Moro (1478-1535), estadista inglês, mártir Tratado sobre a Paixão, Jesus Cristo amou-os até ao fim, 1ª homilia
(a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 218)

Jesus Cristo deu a vida pelos Seus inimigos
Meditemos profundamente sobre o amor de Jesus Cristo, nosso Salvador, que «amou os Seus até ao fim» (Jo 13, 1) a ponto de, para seu bem, ter voluntariamente sofrido uma morte dolorosa, manifestando assim o maior amor possível. Porque Ele próprio tinha dito: «Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos» (Jo 15, 13). Sim, é sem dúvida esse o maior amor que alguém jamais manifestou e, contudo, o nosso Salvador deu prova de um amor ainda maior porque o fez tanto pelos amigos como pelos inimigos.
Que diferença entre este amor fiel e as outras formas de amor, falso e inconstante, que encontramos no nosso pobre mundo! [...] Quem terá a certeza de, na adversidade, continuar a ter muitos amigos quando o próprio Salvador, quando foi preso, ficou só, abandonado pelos Seus? Quando vos fordes embora, quem quererá ir convosco? Se fôsseis rei, o vosso reino não vos deixaria partir só, esquecendo-vos sem demora? A vossa própria família não vos deixaria partir, qual pobre alma abandonada que não sabe para onde vai?
Aprendamos, pois, a amar em todo o tempo como temos o dever de amar: a Deus acima de todas as coisas e a todas as coisas por causa d'Ele. Porque todo o amor que não se orienta para este fim – ou seja, para a vontade de Deus – é um amor completamente vão e estéril. Qualquer amor que devotemos a um ser criado que enfraqueça o nosso amor a Deus é um amor detestável e um obstáculo ao nosso caminho para o céu. [...] Assim pois, uma vez que Nosso Senhor nos amou tanto pela nossa salvação, imploremos-Lhe assiduamente a Sua graça, não vá acontecer que, em comparação com o Seu grande amor, nos encontremos cheios de ingratidão.
Livro de Ezequiel 37,21-28.
E então lhes dirás: Assim fala o Senhor DEUS: Eis que Eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações por onde se dispersaram; vou reuni-los de toda a parte e reconduzi-los ao seu país.
Farei deles uma só nação na minha terra, nas montanhas de Israel, e apenas um rei reinará sobre todos eles; nunca mais serão duas nações, nem serão divididos em dois reinos.
Não se mancharão mais com os seus ídolos e nunca mais cometerão infames abominações. Eu os salvarei das suas rebeldias, pelas quais pecaram e os purificarei; eles serão o meu povo e
Eu serei o seu Deus. O meu servo David será o seu rei e eles terão um só pastor; caminharão segundo os meus preceitos, observarão os meus mandamentos e os porão em prática. (Jesus Cristo, o Filho e o pastor)
Habitarão o país que Eu dei ao meu servo Jacob e no qual habitaram seus pais; aí ficarão eles, os seus filhos e os filhos de seus filhos para sempre. David, meu servo, será para sempre o seu chefe.
Farei com eles uma aliança de paz; será uma aliança eterna; Eu os estabelecerei e os multiplicarei e colocarei o meu santuário no meio deles para sempre.
A minha morada será no meio deles. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
Então, reconhecerão as nações que Eu sou o SENHOR que santifica Israel, quando tiver colocado o meu santuário no meio deles para sempre."

Livro de Jeremias 31,10.11-12.13.
Povos, escutai a palavra do Senhor! Levai a notícia às ilhas longínquas e dizei: ‘Aquele que dispersou Israel, vai reuni-lo e guardá-lo como o pastor ao seu rebanho.’
Porque o Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos de um mais forte.
Regressarão jubilosos às alturas de Sião e afluirão aos bens do Senhor: Ao trigo, ao vinho e ao azeite, às crias de ovelhas e de vacas. A sua alma será como um jardim bem regado e não voltarão a desfalecer.
Então a jovem alegrar-se-á, bailando; jovens e velhos partilharão do seu júbilo. Converterei o seu pranto em exultação, hei-de consolá-los e aliviá-los das suas penas.

Evangelho segundo S. João 11,45-56.
Então muitos dos judeus que tinham vindo a casa de Maria, ao verem o que Jesus Cristo fez, creram n'Ele.
Alguns deles, porém foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus Cristo tinha feito.
Os sumos sacerdotes e os fariseus convocaram então o Conselho e diziam: «Que havemos nós de fazer, dado que este homem realiza muitos sinais miraculosos?
Se o deixarmos assim, todos irão crer n'Ele e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar santo e a nossa nação.»
Mas um deles, Caifás, que era Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não entendeis nada,
nem vos dais conta de que vos convém que morra um só homem pelo povo e não pereça a nação inteira.»
Ora ele não disse isto por si mesmo; mas, como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus Cristo deveria morrer pela nação.
E não só pela nação, mas também para congregar na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos.
Assim, a partir desse dia, resolveram dar-lhe a morte.
Por isso, Jesus Cristo já não andava em público, mas retirou-se dali para uma região vizinha do deserto, para uma cidade chamada Efraim e lá ficou com os discípulos.
Estava próxima a Páscoa dos judeus e muita gente do país subiu a Jerusalém antes da Páscoa para se purificar.
Procuravam então Jesus Cristo e perguntavam uns aos outros no templo: «Que vos parece? Ele virá à Festa?»
São Roberto Belarmino (1542-1621), jesuita, bispo e Doutor da Igreja A ascensão da alma para Deus (a partir da trad. rev. Tournay)

A partir desse dia, resolveram dar-lhe a morte
Ó Senhor, aquilo que nos ensinas poderia parecer excessivamente difícil, excessivamente pesado, se nos falasses de outra tribuna; mas, dado que nos instruis mais pelo exemplo do que pela palavra, Tu que és «Mestre e Senhor» (Jo 13, 14), como ousaremos dizer o contrário, nós que somos Teus servos e Teus discípulos? Aquilo que dizes é perfeitamente verdadeiro, aquilo que ordenas perfeitamente justo e a cruz de onde nos falas, o atesta. Atesta-o igualmente o sangue que corre a jorros e que brada ao céu (Gn 4, 10) e por fim, também esta morte: se por ela se rasgou o véu do templo e se abriram fendas nas mais duras rochas (Mt 27, 51), como não fará o mesmo e mais ainda, ao coração dos crentes, levando-os a submeter-se?
Senhor, queremos pagar-Te amor com amor e, se o desejo de Te seguir não procede ainda do nosso amor a Ti porque este é fraco, que proceda ao menos do nosso amor ao Teu amor. Se nos atrais a Ti, «corremos ao odor do Teu perfume» (Ct 1, 4): não desejamos apenas amar-Te e seguir-Te, mas estamos decididos a desprezar este mundo [...] quando vemos que Tu, o nosso mestre, não tomaste para Ti as alegrias deste mundo. Vemos-Te afrontar a morte, não numa cama, mas no lenho que faz justiça; sendo rei, não queres outro trono senão este patíbulo. [...] Movidos pelo Teu exemplo de rei cheio de sabedoria, recusamos o apelo deste mundo e dos seus luxos e, tomando a Tua cruz sobre os nossos ombros, propomo-nos seguir-Te, só a Ti. [...] Dá-nos somente a ajuda de que precisamos, dá-nos força para Te seguirmos.

Livro de Isaías 50,4-7.
«O Senhor DEUS ensinou-me o que devo dizer para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos para que eu aprenda como os discípulos.
O Senhor DEUS abriu-me os ouvidos e eu não resisti, nem recusei.
Aos que me batiam, apresentei as espáduas e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam.
Mas o Senhor DEUS veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria envergonhado.

Livro de Salmos 22(21),8-9.17-18a.19-20.23-24.
Todos os que me vêem escarnecem de mim; estendem os lábios e abanam a cabeça.
"Confiou no SENHOR, Ele que o livre; Ele que o salve já que é seu amigo."
Estou rodeado por matilhas de cães, envolvido por um bando de malfeitores; trespassaram as minhas mãos e os meus pés:
posso contar todos os meus ossos. Eles olham para mim cheios de espanto!

Repartem entre si as minhas vestes e sorteiam a minha túnica.
Mas Tu, SENHOR, não Te afastes de mim! És o meu auxílio: vem socorrer-me depressa!
Então anunciarei o Teu nome aos meus irmãos e Te louvarei no meio da assembleia.
Vós, que adorais o SENHOR, louvai-O! Glorificai-O, descendentes de Jacob! Reverenciai-O, descendentes de Israel!

Carta aos Filipenses 2,6-11.
Ele que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus;
no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem,
rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
Por isso mesmo é que Deus O elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome,
para que, ao nome de Jesus Cristo, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra;
e toda a língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor!”, para glória de Deus (e do) Pai.

Evangelho segundo S. Mateus 26,14-75.27,1-66.
Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes
e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-l'O entregar?» Eles garantiram-lhe
trinta moedas de prata.
E a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus Cristo.
No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus Cristo e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?»
Ele respondeu:
«Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.’»
Os discípulos fizeram como Jesus Cristo lhes ordenara e prepararam a Páscoa.
Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze.
Enquanto comiam, disse: «
Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.»
Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?»
Ele respondeu: «
O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará.
O Filho do Homem segue o seu caminho como está escrito acerca d'Ele; mas
ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!»
Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «
Tu o disseste» respondeu Jesus Cristo.
Enquanto comiam, Jesus Cristo tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «
Tomai, comei: Isto é o meu corpo.»
Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «
Bebei dele todos Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos para perdão dos pecados.
Eu vos digo: Não beberei mais deste produto da videira, até ao dia em que beber o vinho novo convosco no Reino de meu Pai

Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras.
Jesus Cristo disse-lhes então: «
Nesta mesma noite, todos ficareis perturbados por minha causa porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas.
Mas
depois da minha ressurreição, hei-de preceder-vos na Galileia
Tomando a palavra, Pedro respondeu-lhe: «Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!»
Jesus Cristo retorquiu-lhe: «
Em verdade te digo: Esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me três vezes.»
Pedro disse-lhe: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei!» E todos os discípulos afirmaram o mesmo.
Entretanto, Jesus Cristo com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «
Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.»
E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.
Disse-lhes então: «
A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo
E adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «
Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres
Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e
disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo!
Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.
»
Afastou-se pela segunda vez e foi orar, dizendo: «
Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!»
Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados (não conseguiam resistir àquele sono).
Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras.
Reunindo-se finalmente aos discípulos, disse-lhes: «
Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que me vai entregar

Ainda Ele falava, quando apareceu Judas Iscariotes, um dos Doze, e com ele muita gente, com espadas e varapaus, enviada pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo.
O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o.»
Aproximou-se imediatamente de Jesus Cristo e disse: «Salve, Mestre!» E beijou-o.
Jesus Cristo respondeu-lhe: «
Amigo, a que vieste?» Então avançaram, deitaram as mãos a Jesus Cristo e prenderam-no.
Um dos que estavam com Jesus Cristo levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha.
Jesus Cristo disse-lhe: «
Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada, morrerão à espada.
Julgas que não posso recorrer a meu Pai? Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos!
Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?
»
Voltando-se depois para a multidão, disse: «
Viestes prender-me com espadas e varapaus como se eu fosse um ladrão! Todos os dias estava sentado no templo a ensinar e não me prendestes.
Mas tudo isto aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas.
» Então todos os discípulos O abandonaram e fugiram.
Os que tinham prendido Jesus Cristo conduziram-n'O à casa do Sumo Sacerdote, Caifás, onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido.
Pedro seguiu-o de longe até ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos para ver o desfecho de tudo aquilo.
Os sumos sacerdotes e todo o Conselho
procuravam um depoimento falso contra Jesus Cristo a fim de o condenarem à morte.
Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas
que declararam: «Este homem disse: 'Posso destruir o templo de Deus (corpo humano) e reedificá-lo em três dias.’»
O Sumo Sacerdote ergueu-se então e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?»
Mas Jesus Cristo continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.»
Jesus Cristo respondeu-lhe: «
Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» (ressurreição e ascensão de Jesus Cristo)
Então o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia.
Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.»
Depois cuspiam-lhe no rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo:
«Profetiza, Messias: quem foi que te bateu?»
Entretanto Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.»
Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.»
Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.»
Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.»
Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.»
Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!» No mesmo instante,
o galo cantou.
E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus Cristo: «
Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente.
De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus Cristo para o matarem.
E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos.
Então Judas Iscariotes, que O entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e
devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo:
«
Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.» Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se.
Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois
são preço de sangue
Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro» para servir de cemitério aos estrangeiros.
Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue.»
Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado Aquele que os filhos de Israel avaliaram e
deram-nas pelo Campo do Oleiro como o Senhor havia ordenado.»
Jesus Cristo foi conduzido à presença do governador que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus Cristo respondeu: «
Tu o dizes
Mas ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu.
Pilatos disse-lhe então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?»
Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado.
Ora por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo.
Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás.
Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?»
Ele sabia que o tinham entregado por inveja.
Enquanto estava sentado no tribunal, a esposa mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.»
Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão
a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus Cristo.
Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte?» Eles responderam: «Barrabás!»
Pilatos disse-lhes: «Que hei de fazer então de Jesus chamado Cristo?» Todos responderam: «
Seja crucificado!»
Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?» Mas eles cada vez gritavam mais: «
Seja crucificado
Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.»
E todo o povo respondeu: «
Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!»
Então soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus Cristo, depois de O mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado.
Os soldados do governador conduziram Jesus Cristo para o pretório e reuniram toda a corte à volta d'Ele.
Despiram-n'O e envolveram-n'O com um manto escarlate.
Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante d'Ele, escarneciam-n'O, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!»
E cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça.
Depois de O terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-n'O para ser crucificado.
À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus Cristo. (Ele, durante a Sua vida aliviou a cruz – sofrimentos – de muitos)
Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio»,
deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber.
Depois de O terem crucificado, repartiram entre si as Suas vestes, tirando-as à sorte.
Ficaram ali sentados a guardá-l'O.
Por cima da Sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos Judeus.»
Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda.
Os que passavam, injuriavam-no, meneando a cabeça e
dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!»
Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo:
«Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz e acreditaremos n'Ele.
Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se O ama, pois disse: 'Eu sou Filho de Deus!’»
Até os salteadores que estavam com Ele crucificados, O insultavam.
Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a Terra. (Em toda a Terra era noite, escuro)
Cerca das três horas da tarde, Jesus Cristo clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-l'O, disseram: «Está a chamar por Elias.»
Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber.
Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo.»
E Jesus Cristo, clamando outra vez com voz forte, expirou (faleceu).
Então o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se.
Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos que estavam mortos, ressuscitaram;
e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus Cristo, entraram na cidade santa e apareceram a muitos.
O centurião e os que com ele guardavam Jesus Cristo, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!»
Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus Cristo desde a Galileia e O serviram.
Entre elas estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus Cristo.
Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem.
José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo
e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se.
Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro.
No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos
e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: 'Três dias depois hei-de ressuscitar.’
Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: 'Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.»
Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai-O como entenderdes.»
E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-O à vigilância dos guardas.
São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja Sermão n° 23 (a partir da trad. Tournay rev.)

«Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29)
Em direcção ao Cordeiro de Deus sobe o Hossana do povo: todos os que O empurram entre a multidão, O elogiam numa só e mesma confissão de fé: «Hossana ao Filho de David!» (Mt 21, 9) Neste elogio ressoa já o coração dos santos que canta: «A salvação é dada pelo nosso Deus que está sentado no trono e pelo Cordeiro!» (Ap 7, 10) Ele eleva-Se para o local de onde nos dará o Seu último ensinamento. É aí que vai consumar o sacramento da Páscoa judaica, observada fielmente até então. Ele próprio vai dar a Páscoa nova aos Seus quando, saindo para o Monte das Oliveiras, for posto à prova pelos Seus inimigos e pregado na cruz no dia seguinte. Tal como o Cordeiro Pascal, ei-Lo que aborda hoje o lugar da Sua Paixão e cumpre a profecia de Isaías: «Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador» (53,7).

Cinco dias antes da sua Paixão, quer chegar à Sua cidade; prova assim que é efectivamente o cordeiro imaculado que vem tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29); Ele é o cordeiro pascal que, imolado, liberta o novo Israel da sua escravidão do Egipto (Ex 12); é realmente a cinco dias antes da Sua paixão que os Seus inimigos decidem a Sua morte de forma irredutível. Hoje Ele demonstra-nos assim que vai resgatar-nos a todos pelo Seu sangue (Ap 5, 9); a partir de hoje, na alegria jubilante de um povo que O rodeia e O aclama, entra no Templo de Deus (Mt 21, 12). O «mediador entre Deus e os homens, o Homem, Jesus Cristo» (1Tim 2, 5), vai sofrer pela salvação do género humano: foi para isso que desceu do céu à Terra e hoje quer aproximar-se do lugar da Sua Paixão. Será assim evidente para todos que vai suportar a Paixão de Sua livre vontade e não à força.

Livro de Isaías 42,1-7.
«Eis o meu servo que Eu amparo, o meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu espírito para que leve às nações a verdadeira justiça.
Ele não gritará, não levantará a voz, não clamará nas ruas.
Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça.
Não desanimará, nem desfalecerá até estabelecer na Terra o direito, as leis que os povos das ilhas esperam d'Ele.
Eis o que diz o SENHOR Deus que criou os céus e os estendeu, que consolidou a terra com a sua vegetação, que deu vida aos seus habitantes e o alento aos que andam por ela.
Eu, o SENHOR, chamei-te por causa da justiça, segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como aliança de um povo e luz das nações;
para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão, os que vivem nas trevas.

Livro de Salmos 27(26),1.2.3.13-14.
O SENHOR é minha luz e salvação: de quem terei medo? O SENHOR é o baluarte da minha vida: quem me assustará?
Quando os malvados avançam contra mim para me devorar; são eles, meus opressores e inimigos, que resvalam e caem.
Ainda que um exército me cerque, o meu coração não temerá. Mesmo que me declarem a guerra, ainda assim terei confiança.
Creio, firmemente, vir a contemplar a bondade do SENHOR, na terra dos vivos.
Confia no SENHOR! Sê forte e corajoso e confia no SENHOR!

Evangelho segundo S. João 12,1-11.
Seis dias antes da Páscoa, Jesus Cristo foi a Betânia onde vivia Lázaro que Ele tinha ressuscitado dos mortos.
Ofereceram-lhe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa.
Então Maria ungiu os pés de Jesus Cristo com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume.
Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Iscariotes, aquele que havia de o entregar:
«Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários para os dar aos pobres?»
Ele, porém, disse isto,
não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro (era o administrador dos bens da comunidade), tirava o que nela se deitava.
Então, Jesus Cristo disse: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura!
De facto,
os pobres sempre os tendes convosco, (isto é, sempre haverá pobres) mas a mim não me tendes sempre.»
Um grande número de judeus, ao saber que Ele estava ali, vieram, não só por causa de Jesus Cristo, mas também para verem Lázaro que Ele tinha ressuscitado dos mortos.
Os sumos sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro
porque muitos judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus Cristo.
Papa Bento XVI
Homilia de 02/04/2007 por ocasião do 2º aniversário do falecimento de João Paulo II (trad. © Libreria Editrice Vaticana)

A casa encheu-se com a fragrância do perfume.
A narração evangélica confere um clima pascal intenso para a nossa meditação: a ceia de Betânia é prelúdio para a morte de Jesus, no sinal da unção que Maria fez em homenagem ao Mestre e que Ele aceitou em previsão da Sua sepultura (cf. Jo 12, 7). Mas é também anúncio da ressurreição, mediante a própria presença do redivivo Lázaro, testemunho eloquente do poder de Jesus Cristo sobre a morte. Além da plenitude do significado pascal, a narração da ceia de Betânia tem em si uma ressonância pungente, repleta de afecto e devoção; um misto de alegria e de sofrimento [...].
Para nós, reunidos em oração na recordação do meu venerado Predecessor, o gesto da unção de Maria de Betânia é rico de ecos e de sugestões espirituais. Evoca o testemunho luminoso que João Paulo II ofereceu de um amor a Jesus Cristo sem reservas e sem se poupar. O «perfume» do seu amor «encheu toda a casa» (cf. Jo 12, 3), isto é, toda a Igreja. Sem dúvida, quem beneficiou dele fomos nós que lhe estivemos próximos e por isto agradecemos a Deus, mas dele puderam gozar também todos os que o conheceram de longe porque o amor do Papa Wojtyla por Jesus Cristo superabundou, poderíamos dizer, em todas as regiões do mundo porque era muito forte e intenso. A estima, o respeito e o afecto que crentes e não-crentes lhe manifestaram por ocasião da sua morte não é porventura um testemunho eloquente? [...] O intenso e frutuoso ministério pastoral e ainda mais o calvário da agonia e a morte serena do nosso amado Papa, fizeram conhecer aos homens do nosso tempo que Jesus Cristo era verdadeiramente o seu «tudo». [...]
«E a casa encheu-se com o cheiro do perfume» (Jo 12, 3). Voltemos a esta anotação, tão sugestiva do evangelista João. O perfume da fé, da esperança e da caridade do Papa encheu a sua casa, encheu a Praça de São Pedro, encheu a Igreja e propagou-se no mundo inteiro. O que aconteceu depois da sua morte foi, para quem crê, efeito daquele «perfume» que alcançou todos, próximos e distantes, e os atraiu para um homem que Deus tinha progressivamente conformado com o Seu Jesus Cristo. [...] Que o «Totus tuus» do amado Pontífice nos estimule a segui-lo pelo caminho da doação de nós próprios a Jesus Cristo por intercessão de Maria.
Livro de Isaías 49,1-6.
«Ouvi-me, habitantes das ilhas, prestai atenção, povos de longe. Quando ainda estava no ventre materno, o SENHOR chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome.
Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da Sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava.
Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado.»
Eu dizia a mim mesmo: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças.» Porém, o meu direito está nas mãos do SENHOR e no meu Deus a minha recompensa.
E agora o SENHOR declara-me que me formou desde o ventre materno para ser o seu servo (O servir), para lhe reconduzir Jacob e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o SENHOR. O meu Deus tornou-se a minha força.
Disse-me: «Não basta que sejas meu servo só para restaurares as tribos de Jacob e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da Terra.»

Livro de Salmos 71(70),1-2.3-4a.5-6ab.15.17.
Em Ti, SENHOR, me refugio, jamais serei confundido.
Pela Tua justiça, livra-me e protege-me; inclina para mim os Teus ouvidos e salva-me.
Sê a minha protecção e o refúgio onde me acolho. Tu prometeste salvar-me, pois és o meu rochedo e a minha força.
Meu Deus, livra-me das mãos do ímpio, das mãos do opressor e do violento.

Tu és a minha esperança, ó Senhor DEUS, e a minha confiança desde a juventude.
Em Ti me apoio desde o seio materno, desde o ventre materno és o meu protector; és o objecto contínuo do meu pensamento
A minha boca proclamará a Tua justiça e todo o dia anunciarei a Tua salvação.

Instruíste-me, ó Deus, desde a minha juventude e até hoje anunciei sempre as Tuas maravilhas.

Evangelho segundo S. João 13,21-33.36-38.
Tendo dito isto, Jesus Cristo perturbou-se interiormente e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há-de entregar!»
Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem se referia.
Um dos discípulos, aquele que amava Jesus Cristo (João Evangelista), estava à mesa reclinado no seu peito.
Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse a quem se referia.
Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus Cristo, perguntou: «Senhor, quem é?»
Jesus Cristo respondeu: «
É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado.» E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
E, logo após o bocado,
entrou nele Satanás (já estava nele havia bastante tempo) Jesus Cristo disse-lhe, então: «O que tens a fazer, fá-lo depressa.»
Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera.
Alguns pensavam que, como Judas tinha a bolsa, Jesus Cristo lhe tinha dito: 'Compra o que precisamos para a Festa' ou que desse alguma coisa aos pobres.
Tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite.
Depois de Judas ter saído, Jesus Cristo disse: «
Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus.
E se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem e há-de revelá-la muito em breve.
»
«
Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. Haveis de me procurar e assim como Eu disse aos judeus: 'Para onde Eu for vós não podereis ir', também agora o digo a vós. »
Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?» Jesus Cristo respondeu-lhe: «
Para onde Eu vou, tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde
Disse-lhe Pedro: «Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!»
Replicou Jesus Cristo: «
Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo antes de me teres negado três vezes!»

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia e em seguida bispo de Constantinopla, doutor da Igreja. Homilias sobre a conversão pronunciadas aquando do seu regresso do campo, n°1 (a partir da trad. DDB 1978, p. 32)

«Judas saiu logo, fazia-se noite»
Judas exprimira o seu arrependimento: «Pequei ao entregar sangue inocente» (Mt 27, 4). Mas o demónio, ao ouvir estas palavras, percebeu que Judas estava no bom caminho e esta transformação assustou-o. Em seguida, reflectiu: «O seu mestre é benevolente, pensou; na altura em que ia ser traído por ele, chorou pelo seu destino e suplicou-lhe de mil maneiras; seria de admirar que não o recebesse se ele se arrependesse com toda a sua alma, que renunciasse a abraçá-lo se se erguesse e reconhecesse o seu pecado. Não foi por isso que Ele foi crucificado?» Após estas reflexões, lançou uma profunda perturbação no espírito de Judas; fez com que nele crescesse um imenso desespero capaz de o desconcertar, extenuou-o até que conseguiu levá-lo ao suicídio, roubar-lhe a vida após tê-lo despojado dos seus sentimentos de arrependimento.
Não há dúvida nenhuma: se ele tivesse vivido, seria salvo. Basta olhar para o exemplo dos carrascos. Com efeito, se Jesus Cristo salvou aqueles que O crucificaram, se, mesmo na cruz, ainda rezava a Deus e intercedia junto d'Ele para que lhes concedesse o perdão daquele pecado (Lc 23, 34), como não teria acolhido o traidor com total benevolência, desde que este provasse a sinceridade da sua conversão? [...] Pedro retratou-se por três vezes após ter participado na comunhão dos santos mistérios; as suas lágrimas absolveram-no (Mt 26, 75; Jn 21, 15ss.). Paulo, o perseguidor, o blasfemador, o presunçoso; Paulo que perseguiu, não apenas o Crucificado, mas também todos os Seus discípulos, tornou-se apóstolo após ter-se convertido. Deus pede-nos apenas uma penitência ligeira para nos conceder a remissão dos nossos pecados.

Livro de Isaías 50,4-9.
«O Senhor DEUS ensinou-me o que devo dizer para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos para que eu aprenda como os discípulos.
O Senhor DEUS abriu-me os ouvidos e eu não resisti, nem recusei.
Aos que me batiam apresentei as espáduas e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam.
Mas o Senhor DEUS veio em meu auxílio;
por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria envergonhado.
O meu defensor está junto de mim. Quem ousará levantar-me um processo? Compareçamos juntos diante do juiz! Apresente-se quem tiver qualquer coisa contra mim.
O Senhor DEUS vem em meu auxílio; quem ousará condenar-me? Cairão todos esfrangalhados como roupa velha, roída pela traça.»

Livro de Salmos 69(68),8-10.21bcd-22.31.33-34.
Por causa de Ti, tenho sofrido insultos, o meu rosto cobriu-se de vergonha.
Tornei-me um estranho para os meus irmãos, um desconhecido para os filhos de minha mãe.
O zelo da Tua casa me consome; os insultos dos que Te ultrajam caíram sobre mim.
O insulto despedaçou-me o coração, até desfalecer; esperei compaixão, mas foi em vão; alguém que me consolasse.

Deram-me fel, em vez de comida, e vinagre, quando tive sede.
Louvarei, com cânticos, o nome de Deus; hei-de glorificá-l'O com acções de graças.

Que os humildes vejam isto e se alegrem e os que buscam Deus se encham de coragem
porque o SENHOR escuta os necessitados e não despreza o Seu povo cativo.

Santa Teresa - Benedita da Cruz [Édith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa A Oração da Igreja (a partir da trad. Paris 1955, pp. 19-22; cf Source cachée, p. 54)

«Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?»
Sabemos pelos relatos evangélicos que Jesus Cristo rezou como um judeu crente e fiel à Lei. [...] Pronunciou as antigas orações de bênção que ainda hoje se dizem, pelo pão, pelo vinho e pelos frutos da terra, como mostram as narrações da última Ceia, totalmente consagrada à execução de uma das obrigações religiosas mais santas: a solene refeição da Páscoa que comemorava a libertação da servidão do Egipto. Talvez seja aqui que nos é dada a visão mais profunda da oração de Jesus Cristo como chave que nos introduz na oração de toda a Igreja. [...]
A bênção e a partilha do pão e do vinho faziam parte do rito da refeição pascal. Mas tanto uma como a outra recebem aqui um sentido inteiramente novo. Aqui nasce a vida da Igreja. É certo que é apenas no Pentecostes que Ela nasce como comunidade espiritual e visível. Mas aqui, na Ceia, realiza-se o enxerto da vara na cepa que torna possível a efusão do Espírito. As antigas orações de bênção tornaram-se, na boca de Jesus Cristo, palavras criadoras de vida. Os frutos da terra tornaram-se a Sua carne e o Seu sangue, cheios da Sua vida. [...] A Páscoa da Antiga Aliança tornou-se a Páscoa da Nova Aliança.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Cristianismo 13

Livro de Isaías 49,8-15.

Eis o que diz o SENHOR: «Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação. Defendi-te e designei-te como aliança do povo para restaurares o país e repartires as heranças devastadas,
para dizeres aos prisioneiros: ‘Saí da prisão!’ E aos que estão nas trevas: ‘Vinde à luz!’ Ao longo dos caminhos encontrarão que comer e em todas as dunas arranjarão alimento.
Não padecerão fome nem sede e não os molestará o vento quente nem o sol porque o que tem compaixão deles os guiará e os conduzirá em direcção às fontes.
Transformarei os meus montes em caminhos planos e as minhas estradas serão alteadas.
Vede como eles chegam de longe! Uns vêm do Norte e do Poente e outros da terra de Siene.»
Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó Terra! Prorrompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o SENHOR consola o Seu povo e se compadece dos desamparados.
Sião dizia: «O SENHOR abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim.»
Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria.

Livro de Salmos 145(144),8-9.13-14.17-18.
O SENHOR é clemente e compassivo, é paciente e misericordioso.
O SENHOR é bom para com todos; a Sua ternura repassa todas as Suas obras.
O teu reino é um reino para toda a eternidade e o teu domínio estende-se por todas as gerações.
O SENHOR ergue todos os que caem e reanima todos os abatidos.

O SENHOR é justo em todos os Seus caminhos e misericordioso em todas as Suas obras.
O SENHOR está perto de todos os que O invocam, dos que O invocam sinceramente.

Evangelho segundo S. João 5,17-30.
Naquela altura, Jesus Cristo replicou-lhes: «O meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo!»
Perante isto, mais vontade tinham os judeus de o matar, pois não só anulava o Sábado, mas até chamava a Deus seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus.
Jesus Cristo tomou, pois a palavra e começou a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho.
De facto, o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que Ele mesmo faz e há-de mostrar-lhe obras maiores do que estas de modo que ficareis assombrados, pois assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver também o Filho faz viver aqueles que quer.
O Pai, aliás, não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento
para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é sujeito a julgamento, mas passou da morte para a vida.
Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora e é já em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão,
pois assim como o Pai tem a vida em si mesmo também deu ao Filho o poder de ter a vida em si mesmo;
e deu-lhe o poder de fazer o julgamento porque Ele é Filho do Homem (o Pai do Céu).
Não vos assombreis com isto: é chegada a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz
e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação.
Por mim mesmo, Eu não posso fazer nada: conforme ouço assim é que julgo; e o meu julgamento é justo porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
O Génesis em sentido literal, 4, 11-13 [21-24]
(a partir da trad. Bibliothèque Augustinienne, t. 48, DDB 1972, pp. 307ss. rev.)

«O Meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo!»
Gostaríamos de explicar como é possível compatibilizar o texto do Génesis onde está escrito que Deus repousou ao sétimo dia de todas as Suas obras, com o texto do evangelho onde o Senhor, por Quem todas as coisas foram feitas, diz: «O Meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo!» [...] A observância do sábado foi prescrita aos judeus para prefigurar o repouso espiritual que Deus prometeu aos fiéis que fizessem boas obras, repouso cujo mistério o Senhor Jesus Cristo confirmou com a Sua sepultura porque foi num dia de sábado que Ele repousou no túmulo, [...] depois de ter consumado todas as Suas obras.
Podemos pensar que Deus repousou de ter criado os diversos géneros de criaturas porque não voltou a criar novos géneros; mas [...] nem neste sétimo dia deixou de governar o céu, a Terra e todos os outros seres que tinha criado, pois de outra maneira eles ter-se-iam diluído no nada, porque o poder do Criador, a força do Omnipotente, é a causa pela qual subsistem todas as criaturas. [...] Com efeito, não se passa com Deus o mesmo que com um arquitecto que, concluída a casa, se afasta e [...] a obra subsiste. Pelo contrário, o mundo não poderia subsistir um instante que fosse, se Deus lhe retirasse o Seu apoio. [...]
É isto que afirma o apóstolo Paulo quando pretende anunciar Deus aos atenienses: «Nele vivemos, nos movemos e somos» (Act 17, 28). [...] Com efeito, não somos em Deus como a Sua própria substância, no sentido em que é dito que Ele «tem a vida em Si mesmo»; mas sendo algo diferente d'Ele, só podemos ser n'Ele porque Ele age desta maneira: «A Sua sabedoria estende-se de um extremo ao outro do mundo e governa o universo» (Sb 8, 1). [...] Nós vemos as obras boas que Deus fez (Gn 1, 31) e veremos o Seu repouso depois de termos realizado as nossas obras boas.
Livro de Êxodo 32,7-14.
O Senhor disse a Moisés: «Vai, desce, porque o teu povo, aquele que tiraste do Egipto, está pervertido. Desviaram-se bem depressa do caminho que lhes prescrevi. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto.»
O Senhor prosseguiu: «Vejo bem que este povo é um povo de cerviz dura.
Agora, deixa-me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-los-ei, mas farei de ti uma grande nação.»
Moisés implorou ao Senhor, seu Deus, dizendo-lhe: «Porquê, Senhor, a Tua cólera se inflamará contra o Teu povo que fizeste sair do Egipto com tão grande poder e com mão tão poderosa?
Não é conveniente que se possa dizer no Egipto: ‘Foi com má intenção que Ele os fez sair, foi para os matar nas montanhas e suprimi-los da face da Terra!’ Não te deixes dominar pela cólera e abandona a decisão de fazer mal a este povo.
Recorda-te de Abraão, de Isaac e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo: tornarei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e concederei à vossa posteridade esta terra de que falei e eles hão-de recebê-la como herança eterna.»
E o Senhor arrependeu-se das ameaças que proferira contra o seu povo.

Livro de Salmos 106(105),19-20.21-22.23.
Fizeram um bezerro de ouro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido.
Trocaram assim o seu Deus glorioso pela figura de um animal que come feno.
Esqueceram Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egipto,
maravilhas do país de Cam, feitos gloriosos no Mar dos Juncos.

Deus decidiu aniquilá-los. Moisés, porém, seu escolhido, intercedeu junto d'Ele, para acalmar a Sua ira destruidora.

Evangelho segundo S. João 5,31-47.
Jesus Cristo afirma: «Se Eu testemunhasse a favor de mim próprio, o meu testemunho não teria valor;
há outro que testemunha em favor de mim e Eu sei que o seu testemunho, favorável a mim, é verdadeiro.
Vós enviastes mensageiros a João e ele deu testemunho da verdade.
Não é, porém, de um homem que Eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para vos salvardes.
João era uma lâmpada ardente e luminosa e vós, por um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz.
Mas tenho a meu favor um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai me confiou para levar a cabo, essas mesmas obras que Eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou.
E o Pai que me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto,
nem a sua palavra permanece em vós, visto não crerdes neste que Ele enviou.
Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor.
Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida!
Eu não ando à procura de receber glória dos homens;
a vós, já vos conheço e sei que
não há em vós o amor de Deus.
Eu vim em nome de meu Pai e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis.
Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros e não procurais a glória que vem do Deus único?
Não penseis que Eu vos vou acusar diante do Pai; há quem vos acuse: é Moisés, em quem continuais a pôr a vossa esperança.
De facto, se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em mim porque ele escreveu a meu respeito.
Mas, se vós não acreditais nos seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?»
São Tiago de Sarug (c. 449-521), monge e bispo sírio Homilia sobre o véu de Moisés, 12-13 (a partir da trad. Coll. Peres dans la foi, nº66, Migne 1997, p. 225 rev.)

«Se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em Mim porque ele escreveu a Meu respeito»
Moisés enunciou os mistérios, mas sem os explicar. Com efeito, ele tinha dificuldade em falar e não conseguia exprimir-se claramente (Ex 4, 10). Esta dificuldade em falar foi-lhe conservada como desígnio para que todos os seus discursos permanecessem inexplicados. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo veio, soltou a língua de Moisés e hoje todas as suas palavras se tornaram distintas porque a sua língua não gagueja mais e os seus discursos são transparentes como o dia.
Até Nosso Senhor, a palavra estava entorpecida e permanecia sem explicação e tudo o que tinha sido dito a Seu respeito permanecia obscuro. O mistério permaneceu escondido por trás da gaguez e por trás do véu (Ex 34, 33; 2Cor 3, 14), enquanto não chegou a hora da sua proclamação ao dia claro.
Moisés pedira para ver o Pai (Ex 33, 18); com efeito, ele pressentia que o Filho viria mostrar-Se a este mundo. Foi então que o Pai lhe mostrou o reverso da Sua face; com isso, quis-lhe ensinar que o Seu Filho se manifestaria sob a aparência humana. O Eterno fez a Seu respeito uma distinção entre a face e o reverso para que Moisés reconhecesse que a Terra contemplaria o Seu Filho sob a forma de um homem. [...] Foi para Ele que Moisés olhou e foi d'Ele que veio o brilho com o qual resplandecia a pele do seu rosto (Ex 34, 29). O brilho do Filho repousava sobre toda a profecia [...]; quando Moisés falava, era Ele que falava pela sua boca porque Ele é a Palavra que inspirava todas as palavras da profecia. Sem Ele, não há para os profetas nem palavra nem revelação possível porque Ele é a fonte primeira da profecia. [...] Mas quando veio o Crucificado, o Esposo, a profecia revelou o seu rosto e elevou a voz no meio da assembleia. O Filho da Virgem levantou o véu que cobria os Hebreus e tudo se tornou claro, luminoso e fácil de interpretar.
Livro de Sabedoria 2,1.12-22.
Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: «Breve e triste é a nossa vida, não há remédio algum quando chega a morte e também não se conhece ninguém que tenha regressado do mundo dos mortos.
Armemos
laços ao justo porque nos incomoda e se opõe à nossa forma de actuar. Censura-nos as transgressões da Lei, acusa-nos de sermos infiéis à nossa educação.
Ele afirma ter o conhecimento de Deus e chama-se a si mesmo Filho do Senhor!
Ele tornou-se uma viva censura para os nossos pensamentos; só o acto de o vermos nos incomoda,
pois a sua vida não é semelhante à dos outros e os seus caminhos são muito diferentes.
Ele considera-nos como escória e afasta-se dos nossos caminhos como de imundícies. Declara feliz a sorte final do justo e gloria-se de ter a Deus por pai.
Vejamos, pois se as suas palavras são verdadeiras e que lhe acontecerá no fim da vida.
Porque, se o justo é filho de Deus, Deus há-de ampará-lo e tirá-lo das mãos dos seus adversários.
Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência e comprovar a sua resistência.
Condenemo-lo a uma morte infame, pois, segundo ele diz, Deus o protegerá.»
Estes são os seus pensamentos, mas enganam-se porque os cega a sua malícia.
Ignoram os desígnios secretos de Deus,
não esperam a recompensa da piedade e não acreditam no prémio reservado às almas simples.

Livro de Salmos 34(33),17-18.19-20.21.23.
A ira do SENHOR volta-se contra os malfeitores para apagar da Terra a sua memória.
Os justos clamaram e o SENHOR atendeu-os e livrou-os das suas angústias.
O SENHOR está perto dos corações contritos e salva os espíritos abatidos.
Muitas são as tribulações do justo, mas o SENHOR o livra de todas elas.

Ele guarda todos os seus ossos, nem um só será quebrado.
O SENHOR resgata a vida dos seus servos; os que n'Ele confiam não serão condenados.

Evangelho segundo S. João 7,1-2.10.25-30.
Depois disto, Jesus Cristo continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo.
Estava próxima a festa judaica das Tendas.
Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo.
Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam para o matar?
Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias?
Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.»
Entretanto, Jesus Cristo, ensinando no templo, bradava: «
Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou e que vós não conheceis.
Eu é que o conheço porque procedo d'Ele e foi Ele que me enviou

Procuravam então prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado.
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo Sermão 12, para a terça-feira antes dos Ramos
(a partir da trad. Cerf 1991, p. 44 rev.)

«Jesus Cristo partiu também para a festa [...], mas em segredo»
Jesus Cristo disse-lhes: «Para Mim ainda não chegou o momento oportuno; mas para vós qualquer oportunidade é boa. O mundo não pode odiar-vos; a Mim, porém, odeia-Me porque sou testemunha de que as suas obras são más. Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa porque o tempo que Me está marcado ainda não se completou» (Jo 7,6-8). O que é então esta festa à qual Nosso Senhor nos diz para irmos e cujo tempo é a qualquer momento? A festa mais elevada e a mais verdadeira, a festa suprema, é a festa da vida eterna, ou seja, a felicidade eterna onde estaremos verdadeiramente com Deus. Não o podemos ter aqui em baixo, mas a festa que podemos ter é antegozo daquela, uma experiência da presença de Deus no espírito pela alegria interior que nos dá um sentimento muito íntimo da mesma festa. O tempo que é sempre nosso é o de procurar Deus e de procurar o sentimento da Sua presença em todas as nossas obras, na nossa vida, no nosso querer e no nosso amor. Assim devemos ascender acima de nós mesmos e de tudo o que não é Deus, não querendo e não amando senão a Ele, em total pureza e nada de outra maneira. Este tempo é de todos os instantes.
Toda a gente deseja este autêntico tempo de festa da vida eterna; é um desejo natural porque todos os homens (e mulheres) querem naturalmente ser felizes. Mas não basta desejar. É por Ele mesmo que devemos seguir Deus e procurá-Lo. Muitos gostariam muito de ter o antegozo do verdadeiro e grande dia de festa e lamentam-se que não lhes seja dado. Quando, na oração, não fazem a experiência de um dia de festa no fundo de si próprios e não sentem a presença de Deus, entristecem-se. Rezam menos, fazem-no de mau humor, dizendo que não sentem Deus e que é por isso que a acção e a oração os aborrecem. Aí está o que o homem não deve fazer nunca. Nunca devemos fazer nenhuma obra desanimados porque Deus está sempre presente e, ainda que não O sintamos, todavia Ele veio secretamente à festa.

Livro de Jeremias 11,18-20.
O Senhor instruiu-me e eu entendi. E então vi com clareza o seu proceder para comigo.
E eu, como manso cordeiro conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor; arranquemo-la da terra dos vivos que o seu nome caia no esquecimento.»
Mas o Senhor do universo, justo juiz, sonda os rins e o coração. Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha causa.
Livro de Salmos 7,2-3.9-10.11-12.
SENHOR, meu Deus, a Ti me confio; livra-me de todos os que me perseguem e salva-me.
Que não me arrebatem como o leão e me dilacerem sem que ninguém me valha.
O SENHOR julga os povos; julga-me, então, SENHOR, segundo o meu direito e segundo a minha inocência.
Peço-te: acaba com a malícia dos ímpios; fortalece os que são justos, Tu, que perscrutas o íntimo dos corações, ó Deus de justiça!

A minha protecção está em Deus, que salva os de coração sincero.
Deus é um justo juiz que a todo o momento pode (atuar)
castigar.

Evangelho segundo S. João 7,40-53.
Então entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.»
Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?!
Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém donde era David?»
Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão por Sua causa.
Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão.
Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus que lhes perguntaram: «Porque é que não O trouxestes?»
Os guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!»
Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seduzidos?
Porventura acreditou n'Ele algum dos chefes ou dos fariseus?
Mas essa multidão que não conhece a Lei, é gente maldita!»
Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus Cristo e que era um deles, disse-lhes:
«Porventura permite a nossa Lei julgar um homem sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?»
Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.»
E cada um foi para sua casa.

João Paulo II Enciclica «Dives in misericordia», 7
(trad. © Libreria Editrice Vaticana)

«É o Messias»
O verdadeiro significado da misericórdia não consiste apenas no olhar por mais penetrante e mais cheio de compaixão que ele seja. [...] A misericórdia manifesta-se quando [...] tira bem de todas as formas de mal existentes no mundo e no homem. Entendida desta maneira, constitui o conteúdo fundamental da mensagem messiânica de Jesus Cristo. [...] A mensagem messiânica de Jesus Cristo e a Sua actividade entre os homens (e mulheres) terminam com a Cruz e a Ressurreição. [...] A dimensão divina da Redenção permite-nos descobrir [...] a profundidade do amor que não retrocede diante do extraordinário sacrifício do Filho para satisfazer a fidelidade do Criador e Pai para com os homens (e mulheres). [...]
Os acontecimentos de Sexta-Feira Santa e, ainda antes, a oração no Getsémani, introduzem uma mudança fundamental em todo o processo de revelação do amor e da misericórdia na missão messiânica de Jesus Cristo. Aquele que «passou fazendo o bem e curando a todos», e «sarando toda a espécie de doenças e enfermidades» (Act 10, 38; Mt 9, 35), mostra-Se agora, Ele próprio, digno da maior misericórdia e parece apelar para a misericórdia quando é preso, ultrajado, condenado, flagelado, coroado de espinhos, pregado na cruz e expira no meio de tormentos atrozes. É então que Ele Se apresenta particularmente merecedor da misericórdia dos homens a quem fez o bem; mas não a recebe. Nem aqueles que mais de perto contactaram com Ele, têm a coragem de O proteger e O arrancar à mão dos Seus opressores. Na fase final do desempenho da função messiânica, cumprem-se em Jesus Cristo as palavras dos profetas, e sobretudo as de Isaías, proferidas a respeito do Servo de Javé: «Fomos curados pelas Suas chagas» (53, 5). [...]
«Aquele que não conhecera o pecado, Deus tratou-O, por nós, como pecado», escrevia São Paulo (2Cor 5, 21), resumindo em poucas palavras toda a profundidade do mistério da Cruz e a dimensão divina da realidade da Redenção. É precisamente a Redenção a última e definitiva revelação da santidade de Deus que é a plenitude absoluta da perfeição.

Livro de Daniel 13,1-9.15-17.19-30.33-62.
Havia um homem chamado Joaquim que habitava na Babilónia.
Tinha desposado uma mulher de nome Susana, filha de Hilquias, muito bela e piedosa para com o Senhor,
pois tinha sido educada pelos pais, que eram justos, de harmonia com a lei de Moisés.
Joaquim era muito rico. Contíguo à sua casa, tinha um pomar e, com frequência, se reuniam em casa dele os judeus, pois que entre todos os seus compatriotas gozava de particular consideração.
Tinham sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo. A eles justamente se aplicava a palavra do Senhor: «A iniquidade veio da Babilónia, de anciãos e juízes, que passavam por dirigir o povo.»
Estas duas personagens frequentavam a casa de Joaquim onde vinham procurá-los todos os que tinham qualquer contenda.
À hora do meio-dia, quando toda esta gente se tinha retirado, Susana ia passear para o jardim do marido.
Os dois anciãos viam-na todos os dias, por ocasião do passeio, de maneira que a sua paixão se acendeu por ela.
Perderam a justa noção das coisas, afastaram os olhos para não olharem para o céu e não se lembrarem da verdadeira regra de conduta.
Um dia, como de costume, chegou Susana, acompanhada apenas por duas criadas e preparava-se para tomar banho no jardim, pois fazia calor.
Não havia aí ninguém senão os dois anciãos que, escondidos, a espiavam.
Disse às jovens: «Trazei-me óleo e unguentos e fechai as portas do jardim para eu tomar banho.»
Logo que elas saíram, os dois homens precipitaram-se para junto de Susana
e disseram-lhe: «As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê. Nós ardemos de desejo por ti. Aceita e entrega-te a nós.
Se não quiseres, vamos denunciar-te. Diremos que um rapaz estava contigo e que foi por isso mesmo que tu mandaste embora as criadas.»
Susana bradou angustiada: «Estou sujeita a aflições de todos os lados! Se faço isso, é para mim a morte. Se não o faço, nem mesmo assim vos escaparei.
Mas é preferível para mim cair em vossas mãos sem ter feito nada do que pecar aos olhos do Senhor.»
Susana, então, soltou altos gritos e os dois anciãos gritaram também com ela.
E um deles, correndo para as portas do jardim, abriu-as.
As pessoas da casa, ao ouvirem esta gritaria, precipitaram-se pela porta traseira para ver o que tinha acontecido.
Logo que os anciãos falaram, os criados coraram de vergonha, pois jamais se tinha dito coisa semelhante de Susana.
No dia seguinte, os dois anciãos, dominados pelo desejo criminoso contra a vida de Susana, vieram à reunião que tinha lugar em casa de Joaquim, seu marido.
Disseram diante de toda a gente: «Que se vá procurar Susana, filha de Hilquias, a mulher de Joaquim!» Foram procurá-la.
E veio com os seus pais, os filhos e os membros da sua família.
Choravam todos os seus assim como todos os que a conheciam.
Os dois anciãos levantaram-se diante de todo o povo e puseram a mão sobre a cabeça de Susana,
enquanto ela, debulhada em lágrimas, mas de coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu.
Disseram então os anciãos: «Quando passeávamos a sós pelo jardim, entrou ela com duas criadas e depois de ter fechado as portas, mandou embora as criadas.
Então, um jovem, que estava lá escondido, aproximou-se e pecou com ela.
Encontrávamo-nos a um canto do jardim. Perante semelhante atrevimento, corremos para eles e surpreendemo-los em flagrante delito.
Não pudemos ter mão no rapaz porque era mais forte do que nós, abriu a porta e escapou-se.
A ela apanhámo-la; mas, quando a interrogámos para saber quem era esse rapaz,
recusou responder-nos. Somos testemunhas disto.» Dando crédito a estes homens que eram anciãos e juízes do povo, a assembleia condenou Susana à morte.
Esta então em altos brados disse: «Deus eterno que sondas os segredos, que conheces os acontecimentos antes que se dêem,
Tu sabes que proferiram um falso testemunho contra mim. Vou morrer sem ter feito nada daquilo que maldosamente inventaram contra mim.»
Deus ouviu a sua oração.
Quando a conduziam para a morte, o Senhor despertou a alma límpida de um rapazinho chamado Daniel
que gritou com voz forte: «Estou inocente da morte dessa mulher!»
Toda a gente se voltou para ele e disse: «Que é que isso quer dizer?»
E dirigindo-se para o meio deles, afirmou: «Israelitas! Estais loucos para condenardes uma filha de Israel, sem examinardes nem reconhecerdes a verdade?
Recomeçai o julgamento porque é um falso testemunho o que estes dois homens declararam contra ela.»
O povo apressou-se a voltar. Os anciãos disseram a Daniel: «Vem, senta-te no meio de nós e esclarece-nos porque Deus te deu maturidade!»
Bradou Daniel: «Separai-os para longe um do outro e eu os julgarei.»
Separaram-nos. Daniel então chamou o primeiro e disse-lhe: «Velho perverso! Eis que se manifestam agora os pecados que cometeste outrora em julgamentos injustos,
ao condenares os inocentes, absolvendo os culpados quando o Senhor disse: ‘Não farás com que morra o inocente ou o justo.’
Vamos! Se realmente os viste, diz-nos debaixo de que árvore os viste entreterem-se um com o outro.» «Sob um lentisco.» – respondeu.
Retorquiu Daniel: «Pois bem! Aí está a mentira que pagarás com a tua cabeça. Eis que o anjo do Senhor, conforme a sentença divina, te vai rachar a meio!»
Afastaram o homem e Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: «Tu és um filho de Canaã e não um judeu. Foi a beleza que te seduziu e a paixão que te perverteu.
É assim que sempre tendes procedido com as filhas de Israel que, por medo, entravam em relação convosco. Uma filha de Judá, porém, não consentiu na vossa perversidade.
Vamos, diz-me: sob que árvore os surpreendeste em atitude de se unirem?» «Sob um carvalho.»
Respondeu Daniel: «Pois bem! Também tu forjaste uma mentira que te vai custar a vida. Eis que o anjo do Senhor, de espada em punho, se dispõe a cortar-te ao meio para vos aniquilar.»
Logo a multidão deu grandes brados e bendizia a
Deus que salva os que põem n'Ele a sua esperança.
Toda a gente então se insurgiu contra os dois anciãos que Daniel tinha convencido de falso testemunho pelas suas próprias declarações e deu-se-lhes o mesmo tratamento que eles tinham infligido ao seu próximo.
De harmonia com a lei de Moisés, mataram-nos. Deste modo, foi poupada naquele dia uma vida inocente.

Livro de Salmos 23(22),1-3.4.5.6.
O SENHOR é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A Tua vara e o Teu cajado dão-me confiança.

Preparas a mesa para mim à vista dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; a minha taça transbordou.
Na verdade, a Tua bondade e o Teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.

Evangelho segundo S. João 8,1-11.
Jesus Cristo foi para o Monte das Oliveiras.
De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus Cristo sentou-se e pôs-se a ensinar.
Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio
e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério.
Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?»
Faziam-lhe esta pergunta para O fazerem cair numa armadilha e terem de que O acusar. Mas Jesus Cristo, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra.
Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «
Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!»
E inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra.
Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus Cristo e a mulher que estava no meio deles.
Então Jesus Cristo ergueu-se e perguntou-lhe: «
Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?»
Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus Cristo: «
Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja Sermão 13

«Também Eu não te condeno»
Há um salmo que diz: «Deixai-vos instruir, juízes da Terra!» (Sl 2,10). Os que julgam na Terra são os reis, os governantes, os príncipes, os juízes propriamente ditos. [...] Que eles se instruam porque se trata da Terra que julga a Terra, mas ela deve temer Aquele que está no céu. Eles julgam os seus iguais: o homem julga um homem, o mortal, um mortal, o pecador, um pecador. Se Nosso Senhor Jesus Cristo fizesse ressoar, no meio desses juízes, esta sentença divina: «Que o primeiro que estiver sem pecado, atire a primeira pedra», não começariam a tremer todos aqueles que julgam na Terra?
Aos fariseus que, para O tentar, Lhe tinham trazido uma mulher surpreendida em adultério [...], Jesus Cristo disse: «Vós quereis lapidar esta mulher como está prescrito na Lei. Pois bem, que aquele de vós que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra». Enquanto O questionavam, escrevia na terra, para «instruir a terra»; mas, quando lhes deu esta resposta, levantou os olhos, «olhou para a terra e ela estremeceu» [Sl 104 (103), 32]. Os fariseus, confusos e a tremer, vão-se embora, um após outro. [...]
A pecadora ficou só com o Salvador: a doente com o médico, a grande miséria com a grande misericórdia. Olhando para esta mulher, Jesus Cristo diz-lhe: «Ninguém te condenou? ─ Ninguém Senhor» [...] Mas ela permanece diante de um juiz que não tem pecado. «Ninguém te condenou? ─ Ninguém Senhor, e se Tu próprio não me condenares, estou em segurança». Silenciosamente, o Senhor responde a esta inquietação: «Também Eu não te condeno. [...] A voz da consciência impediu os acusadores de te punirem; a misericórdia incita-Me a vir em teu socorro». Meditai nestas verdades e «deixai-vos instruir, juízes da Terra».

Livro de Números 21,4-9.
Naqueles dias, os filhos de Israel partiram do monte Hor para o mar Vermelho, contornando a terra de Edom.
O povo falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto? Foi para morrer no deserto onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?»
Mas o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes que mordiam o povo e por isso morreu muita gente de Israel.
O povo foi ter com Moisés e disse-lhe: «Pecámos ao protestarmos contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor para que afaste de nós as serpentes.» E Moisés intercedeu pelo povo.
O Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.»
Moisés fez, pois uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia.

Livro de Salmos 102(101),2-3.16-18.19-21.
SENHOR, escuta a minha oração e chegue junto de Ti o meu clamor!
Não me ocultes o Teu rosto no dia da aflição. Inclina para mim o Teu ouvido; no dia em que Te invocar, responde-me sem demora!
Os povos honrarão, SENHOR, o Teu nome e todos os reis da terra, a Tua majestade.
Quando o SENHOR reconstruir Sião e manifestar a Sua glória,

há-de voltar-se para a oração do indigente e não desprezará as suas súplicas.
Escrevam-se estas coisas para as gerações futuras e os que hão-de nascer louvarão o SENHOR.
O SENHOR observa do alto do Seu santuário; lá do céu, Ele olha para a Terra,
para escutar os gemidos dos cativos e livrar os condenados à morte.

Evangelho segundo S. João 8,21-30.
Naquele tempo, Jesus Cristo disse aos fariseus: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou.»
Então os judeus comentavam: «Será que Ele se vai suicidar, dado que está a dizer: 'Vós não podeis ir para onde Eu vou'?»
Mas Ele acrescentou: «
Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo.
Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados

Perguntaram-lhe então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus Cristo: «
Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer!
Tenho muitas coisas que dizer e que
julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou e que é verdadeiro
Eles não perceberam que lhes falava do Pai.
Disse-lhes, pois Jesus Cristo: «
Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou.
E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só porque faço sempre aquilo que lhe agrada.
»
Quando expunha estas coisas, muitos creram n'Ele.

São João Crisóstomo (c. 345-407), Bispo de Antioquia e, mais tarde, de Constantinopla, Doutor da Igreja. Catequeses baptismais, n° 3, 16ss. (a partir da trad. bréviaire rev.; cf SC 50 bis, pp. 160ss.)

«Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou»
Queres saber que força se esconde no sangue de Jesus Cristo? Vê de onde foi que ele começou a correr e qual é a sua origem: vem da cruz, do lado do Senhor. Estando Jesus Cristo já morto, diz o evangelho, mas ainda suspenso da cruz, veio um soldado «e abriu-Lhe o lado com um golpe de lança e d'Ele saiu sangue e água» (Jo 19, 33-34). Esta água era o símbolo do baptismo e o sangue, o símbolo dos mistérios eucarísticos. [...] Foi, pois um soldado que Lhe abriu o lado, perfurando a muralha do templo santo e eu encontrei este tesouro e fiz dele a minha fortuna. [...]
«E dele saiu sangue e água». Não passes com indiferença por este mistério. [...] Já te disse que esta água e este sangue são símbolo do baptismo e dos mistérios eucarísticos. Ora a Igreja nasceu destes dois sacramentos: deste banho do renascimento e da renovação no Espírito, ou seja, do baptismo, e dos mistérios. Mas os sinais do baptismo e dos mistérios saíram do lado de Jesus Cristo; consequentemente, Jesus Cristo constituiu a Igreja a partir do Seu lado, tal como formara Eva a partir do lado de Adão (Gn 2, 22).
É por isso que Paulo afirma: Somos da Sua carne e dos Seus ossos (cf Act 17, 29; Gn 2, 23), designando desse modo o lado do Senhor Jesus Cristo. Com efeito, assim como o Senhor tomou carne do lado de Adão para formar a mulher, assim também Jesus Cristo nos deu o sangue e a água do Seu lado para formar a Igreja. E assim como retirou a carne do lado de Adão enquanto este dormia, assim também nos deu o sangue e a água depois da Sua morte [...] porque desde agora a morte é um simples sono. Vistes como foi que Jesus Cristo Se uniu à Sua esposa? Vistes que alimento nos dá a todos? Foi deste alimento que nascemos, é com ele que nos alimentamos. Assim como a mulher gera os filhos do seu próprio sangue e os alimenta com o seu leite assim também Jesus Cristo alimenta constantemente com o Seu sangue aqueles que gerou.

Livro de Daniel 3,14-20.91-92.95.
Disse-lhes Nabucodonossor: «Chadrac, Mechac e Abed-Nego, é verdade que rejeitais o culto aos meus deuses e a adoração à estátua de ouro erigida por mim?
Pois bem! Estais dispostos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de qualquer outro instrumento musical, a prostrar-vos em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis logo lançados dentro da fornalha ardente. E qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?»
Chadrac, Mechac e Abed-Nego responderam ao rei Nabucodonosor: «Não vale a pena responder-te a propósito disto.
Se isso assim é, o Deus que nós servimos, pode livrar-nos da fornalha incandescente e até mesmo, ó rei, da tua mão.
E ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto aos teus deuses e que não adoramos a estátua de ouro que tu levantaste.»
Então explodiu a fúria de Nabucodonossor contra Chadrac, Mechac e Abed-Nego; a expressão do seu rosto mudou e levantou a voz para mandar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume.
Em seguida, ordenou aos soldados mais vigorosos do seu exército que amarrassem Chadrac, Mechac e Abed-Nego a fim de os lançar na fornalha incandescente.
Então o rei Nabucodonossor, estupefacto, levantou-se repentinamente, dizendo para os seus conselheiros: «Não foram três homens, atados de pés e mãos, que lançámos ao fogo?» Responderam eles ao rei: «Com certeza».
«Pois bem –replicou o rei – vejo quatro homens soltos, que passeiam no meio do fogo, sem este lhes causar mal; o quarto tem o aspecto de um filho de Deus.»
Nabucodonossor, tomando a palavra, disse: «Bendito seja o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego!
Ele enviou o seu anjo para libertar os seus servos que, confiando n'Ele, expuseram a vida, transgredindo as ordens do rei antes que prostrarem-se em adoração diante de um outro deus que não fosse o Deus deles.

Livro de Daniel 3,52.53.54.55.56.
«Bendito sejas, Senhor, Deus de nossos pais:– digno de louvor e glória eternamente! Bendito seja o Teu nome santo e glorioso:– digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
Bendito sejas no templo da Tua santa glória: – digno de supremo louvor e glória eternamente!
Bendito sejas por penetrares os abismos, sentado sobre os querubins: – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
Bendito sejas no Teu trono real: – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
Bendito sejas no firmamento dos céus:– digno de supremo louvor e glória eternamente!

Evangelho segundo S. João 8,31-42.
Então, Jesus Cristo pôs-se a dizer aos judeus que nele tinham acreditado: «Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos,
conhecereis a verdade e
a verdade vos tornará livres
Replicaram-lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém! Como é que Tu dizes: 'Sereis livres'?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «
Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é servo do pecado
e o servo não fica na família para sempre; o filho é que fica para sempre.
Pois bem, se o Filho vos libertar, sereis realmente livres.
Eu sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me porque não aderis à minha palavra.
Eu comunico o que vi junto do Pai e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai

Eles replicaram-lhe: «O nosso pai é Abraão!» Jesus Cristo disse-lhes: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão!
Agora, porém, vós pretendeis matar-me, a mim, um homem que vos comunicou a verdade que recebi de Deus. Isso não o fez Abraão!
Vós fazeis as obras do vosso pai.» Eles disseram-lhe então: «Nós não nascemos da prostituição. Temos um só Pai que é Deus.»
Disse-lhes Jesus Cristo: «
Se Deus fosse vosso Pai, ter-me-íeis amor, pois é de Deus que Eu saí e vim. Não vim de mim próprio, mas foi Ele que me enviou.
Catecismo da Igreja Católica §§ 214-219
«Conhecereis a verdade»
Deus, «Aquele que É», revelou-Se a Israel como Aquele que é «cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex 34, 6). Estas duas palavras exprimem, de modo sintético, as riquezas do nome divino. Em todas as Suas obras, Deus mostra a sua benevolência, a Sua bondade, a Sua graça, o Seu amor; mas também a Sua credibilidade, a Sua constância, a Sua fidelidade, a Sua verdade. [...]
Deus é a verdade. «A verdade é princípio da Vossa palavra, é eterna toda a sentença da Vossa justiça» (Sl 119, 160). «Decerto, Senhor Deus, Vós é que sois Deus e dizeis palavras de verdade» (2 Sm 7, 28); é por isso que as promessas de Deus se cumprem sempre. Deus é a própria verdade; as Suas palavras não podem enganar. É por isso que nos podemos entregar com toda a confiança e em todas as coisas à verdade e à fidelidade da Sua palavra. O princípio do pecado e da queda do homem foi uma mentira do tentador que o levou a duvidar da palavra de Deus, da Sua benevolência e da Sua fidelidade (Gn 3, 1).
A verdade de Deus é a Sua sabedoria que comanda toda a ordem da criação e o governo do mundo. Só Deus – que criou o céu e a Terra – pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas, criadas na sua relação com Ele. Deus é igualmente verdadeiro quando Se revela: todo o ensinamento que vem de Deus é «doutrina de verdade» (Ml 2, 6). Quando Ele enviar o Seu Filho ao mundo, será «para dar testemunho da verdade» (Jo 18, 37): «Sabemos [...] que veio o Filho de Deus e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro» (1 Jo 5, 20).
Deus é amor. [...] O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor dum pai para com o seu filho (Os 11, 1). Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus filhos (Is 49, 14-15). Deus ama o Seu povo mais do que um esposo a sua bem-amada (Is 62, 4-5); este amor vencerá mesmo as piores infidelidades e chegará ao mais precioso de todos os dons: «Deus amou de tal maneira o mundo que lhe entregou o Seu Filho Único» (Jo 3, 16).