quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cristianismo 12

Livro de Isaías 7,10-14.

O SENHOR mandou dizer de novo a Acaz:
«Pede ao SENHOR teu Deus um sinal quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.»
Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o SENHOR.»
Isaías respondeu: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus?
Por isso o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel.
Livro de Salmos 40(39),7-8.9.10.11.
Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas abriste me os ouvidos para escutar; não pediste holocaustos nem vítimas.
Então eu disse: "Aqui estou! No Livro da Lei está escrito aquilo que devo fazer."
Esse é o meu desejo, ó meu Deus; a tua Lei está dentro do meu coração.
Anunciei a Tua justiça na grande assembleia; Tu bem sabes, SENHOR, que não fechei os meus lábios.
Não escondi a Tua justiça no fundo do coração; proclamei a Tua fidelidade e a Tua salvação. Não ocultei à grande assembleia a Tua bondade e a Tua verdade.
Carta aos Hebreus 10,4-10.
(...) uma vez que é impossível que o sangue dos touros e dos bodes apague os pecados.
Por isso, ao entrar no mundo, Jesus Cristo diz:
Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo.
Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados
.
Então Eu disse: Eis que venho – como está escrito no livro a meu respeito – para fazer, ó Deus, a Tua vontade.
Disse primeiro: “Não quiseste nem te agradaram sacrifícios, oferendas e holocaustos pelos pecados” e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei.
Disse em seguida: Eis que venho para fazer a tua vontade.
Suprime assim o primeiro culto para instaurar o segundo.
E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre.

Evangelho segundo S. Lucas 1,26-38.
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma virgem desposada com um homem chamado José da casa de David e o nome da virgem era Maria.
Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.»
Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação.
Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus.
Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.
Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David,
reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao anjo: «Como será isso se eu não conheço homem?»
O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra.
Por isso aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus.
Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril
porque
nada é impossível a Deus
Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
Tertuliano (c. 155-v. 220), teólogo A Carne de Jesus Cristo, 17; PL 2, 781 (cf. SC 126, p. 281)

«Faça-se em mim segundo a tua palavra»
Porque é que o Filho de Deus nasceu de uma Virgem? [...] Era necessário um modo totalmente novo de nascer para Aquele que ia consagrar uma nova ordem de nascimento. Isaías tinha profetizado que o Senhor anunciaria esta maravilha através de um sinal. Que sinal? «Eis que uma virgem vai conceber e dará à luz um filho.» Sim, a Virgem concebeu e deu à luz o Emanuel, Deus connosco (Is 7, 14; Mt 1, 23). Eis a nova ordem de nascimento: o homem nasce em Deus porque Deus nasce no homem; Deus faz-Se carne para regenerar a carne pela semente nova do Espírito e lavar todas as manchas passadas.
Toda esta nova ordem foi prefigurada no Antigo Testamento porque na intenção divina o primeiro homem nasceu para Deus através de uma virgem. Com efeito, a terra era ainda virgem, o trabalho do homem não a tinha tocado, a semente não tinha sido ainda lançada, quando Deus a tomou para dar forma ao homem e torná-lo «um ser vivo» (Gn 2, 5.7). Por conseguinte, se o primeiro Adão foi moldado de terra, é justo que o segundo, a quem o apóstolo Paulo chama «o novo Adão», seja retirado por Deus de uma terra virgem, ou seja, de uma carne cuja virgindade permanecia inviolada para se tornar «Espírito que vivifica» (1Cor 15, 45). [...]
Quando quis recuperar «a Sua imagem e a Sua semelhança» (Gn 1, 26) caída sob o poder do demónio, Deus agiu de forma igual à do momento em que o criou. Eva era ainda virgem quando acolheu a palavra que originaria a morte; por conseguinte, seria também de uma virgem que devia descer a Palavra de Deus que ergueria o edifício da Vida. [...] Eva confiou na serpente; Maria teve fé em Gabriel. O pecado que Eva, crendo, cometeu; foi Maria, crendo, que o apagou. [...] A palavra do diabo foi para Eva a semente da sua humilhação e das suas dores de parto (Gn 3, 16) e ela trouxe ao mundo o assassino do seu irmão (4, 8). Pelo contrário, Maria trouxe ao mundo um Filho que haveria de salvar Israel, Seu irmão.

Livro de Êxodo 1,3-7.
Ali o povo teve sede de água e murmurou contra Moisés, dizendo: «Porque nos fizeste subir do Egipto para nos fazer morrer à sede, a nós, aos nossos filhos e ao nosso gado?»
Moisés clamou ao Senhor, dizendo: «Que farei a este povo? Mais um pouco e vão apedrejar-me.»
O Senhor disse a Moisés: «Passa diante do povo e toma contigo alguns anciãos de Israel e leva na tua mão a vara com que feriste o rio e vai.
Eis que estarei diante de ti, lá, sobre a rocha no Horeb. Tu ferirás a rocha e dela sairá água e o povo beberá.» Assim fez Moisés diante dos anciãos de Israel.
Ele deu àquele lugar o nome de Massá e Meribá por causa do litígio dos filhos de Israel e por terem posto o Senhor à prova, dizendo: «Está o Senhor no meio de nós ou não?»

Livro de Salmos 95(94),1-2.6-7.8-9.
Vinde, exultemos de alegria no SENHOR, aclamemos o rochedo da nossa salvação.
Vamos à Sua presença com hinos de louvor, saudemo-lo com cânticos jubilosos.
Vinde, prostremo-nos por terra, ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou.
Ele é o nosso Deus e nós somos o Seu povo, as ovelhas por Ele conduzidas. Oxalá ouvísseis hoje a Sua voz:
"Não endureçais os vossos corações como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto
quando os vossos pais me provocaram e me puseram à prova, apesar de terem visto as minhas obras.

Carta aos Romanos 5,1-2.5-8.
Portanto, uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus.
Ora a esperança não engana porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
De facto, quando ainda éramos fracos é que Jesus Cristo morreu pelos ímpios.
Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer,
mas é assim que Deus demonstra o Seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Jesus Cristo morreu por nós.

Evangelho segundo S. João 4,5-42.
Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacob tinha dado ao seu filho José. Ficava ali o poço de Jacob.
Então Jesus Cristo, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia.
Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus Cristo: «
Dá-me de beber.»
Os Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos (
excepto o João Evangelista).
Disse-lhe então a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» É que os judeus não se dão bem com os samaritanos.
Respondeu-lhe Jesus Cristo: «
Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: 'dá-me de beber'; tu é que lhe pedirias e Ele havia de dar-te água viva!»
Disse-lhe a mulher: «Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo...
Onde consegues, então, a água viva? Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob que nos deu este poço donde beberam ele, os seus filhos e os seus rebanhos?»
Replicou-lhe Jesus Cristo: «
Todo aquele que bebe desta água, voltará a ter sede;
mas quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der, há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna

Disse-lhe a mulher: «Senhor, dá-me dessa água para eu não ter sede nem ter de vir cá tirá-la.»
Respondeu-lhe Jesus Cristo: «
Vai, chama o teu marido e volta cá.»
A mulher retorquiu-lhe: «Eu não tenho marido.» Declarou-lhe Jesus Cristo: «
Disseste bem: 'não tenho marido',
pois tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste verdade
Disse-lhe a mulher: «Senhor, vejo que és um profeta!
Os nossos antepassados adoraram a Deus neste monte e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém.»
Jesus Cristo declarou-lhe: «
Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai.
Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.
Mas chega a hora e é já em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai
em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende.
Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.
»
Disse-lhe a mulher: «Eu sei que o Messias, que é chamado Cristo, está para vir. Quando vier, há-de fazer-nos saber todas as coisas.»
Jesus Cristo respondeu-lhe: «
Sou Eu que estou a falar contigo
Nisto chegaram os seus discípulos e ficaram admirados de Ele estar a falar com uma mulher, mas nenhum perguntou: 'Que procuras?' ou: 'De que estás a falar com ela?'
Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente:
«Eia! Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?»
Eles saíram da cidade e foram ter com Jesus Cristo.
Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo: «Rabi, come.»
Mas Ele disse-lhes: «
Eu tenho um alimento para comer que vós não conheceis
Então os discípulos começaram a dizer entre si: «Será que alguém lhe trouxe de comer?»
Declarou-lhes Jesus Cristo: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a Sua obra.
Não dizeis vós: 'Mais quatro meses e vem a ceifa'? Pois Eu digo-vos: Levantai os olhos e
vede os campos que estão doirados para a ceifa (metáfora).
Já o ceifeiro recebe o seu salário e recolhe o fruto em ordem à vida eterna de modo que se alegram ao mesmo tempo aquele que semeia e o que ceifa.
Nisto, porém, é verdadeiro o ditado: 'um é o que semeia e outro o que ceifa'
porque Eu enviei-vos a ceifar o que não trabalhastes; outros se cansaram a trabalhar e vós ficastes com o proveito da sua fadiga.»
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram n'Ele devido às palavras da mulher que testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz.»
Por isso quando os samaritanos foram ter com Jesus Cristo, começaram a pedir-lhe que ficasse com eles.
E ficou lá dois dias. Então muitos mais acreditaram n'Ele por causa da sua pregação e diziam à mulher:
«Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.»
São Tiago de Sarug (c. 449-521), monge e bispo sírio Homilia sobre Nosso Senhor Jesus Cristo e Jacob, sobre a Igreja e Raquel
(a partir da trad. de Ir. Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 1, p. 98 rev.)

«Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob?»
A vista da beleza de Raquel tornou Jacob, de certo modo, mais forte: ele conseguiu levantar a enorme pedra de cima do poço e assim dar de beber ao rebanho (Gn 29, 10). [...] Em Raquel, com quem casou, viu o símbolo da Igreja. Foi por isso que, ao beijá-la, teve de chorar e de sofrer (v. 11) a fim de prefigurar, pelo seu casamento, os sofrimentos do Filho. [...] Quão mais belas são as núpcias do Esposo real do que as dos Seus embaixadores! Jacob chorou por Raquel, ao desposá-la; Nosso Senhor Jesus Cristo cobriu a Igreja com o Seu sangue, ao salvá-la. As lágrimas são o símbolo do sangue porque não é sem dor que elas jorram dos olhos. O choro do justo Jacob é o símbolo do grande sofrimento do Filho, pelo qual a Igreja das nações foi salva.
Vem, contempla o nosso Mestre: Ele veio do Seu Pai para o mundo, aniquilou-Se para fazer o Seu caminho na humildade (Fil 2, 7). [...] Ele viu as nações como rebanhos sedentos e a fonte da vida fechada pelo pecado como que por uma pedra. Ele viu a Igreja semelhante a Raquel, então avançou e derrubou o pecado que era pesado como uma rocha. Ele abriu o baptistério para a sua Esposa, para que ela se banhasse nele; e foi aí buscar água para dar de beber às nações da terra como aos Seus rebanhos. Com toda a Sua omnipotência, levantou o pesado fardo dos pecados; pôs a descoberto a fonte de água doce para o mundo inteiro. [...]
Sim, pela Igreja, Nosso Senhor deu-Se a grandes trabalhos. Por amor, o Filho de Deus vendeu os Seus sofrimentos para poder desposar, à custa das Suas chagas, a Igreja abandonada. Por ela, que adorava os ídolos, sofreu sobre a cruz. Por ela, quis entregar-Se para que ela fosse para Ele completamente imaculada (Ef 5, 25-27). Ele consentiu em levar às pastagens o rebanho inteiro dos homens, com o grande cajado da cruz; Ele não rejeitou o sofrimento. Ele aceitou conduzir raças, nações, tribos, multidões e povos para poder reaver a Igreja, sua única Esposa (Ct 6, 9).

Livro de Daniel 3,25.34-43.
Azarias, de pé no meio das chamas, fez esta prece:
Pelo teu nome, não nos abandones para sempre, não anules a aliança.
Não nos retires a tua misericórdia,em atenção a Abraão, teu amigo,a Isaac, teu servo,
aos quais prometeste multiplicar a sua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar.
Senhor, estamos reduzidos a nada diante das nações, estamos hoje humilhados em face de toda a Terra por causa dos nossos pecados.
Agora não há nem príncipe, nem profeta, nem chefe,nem holocausto, nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem um local para te oferecer as primícias e encontrar misericórdia.
Que pela contrição de coração e humilhação de espírito,sejamos acolhidos como se trouxéssemos holocaustos de carneiros e de touros e de milhares de cordeiros gordos.
Que este seja hoje diante de Ti o nosso sacrifício; possa ele reconciliar-nos contigo, pois não têm que envergonhar-se aqueles que em Ti confiam.
É de todo o coração que agora Te seguimos, Te veneramos e Te procuramos; não nos confundas.
Trata-nos com a Tua doçura habitual e com todas as riquezas da Tua misericórdia.
Livra-nos pelos Teus prodígios e cobre de glória o Teu nome, Senhor.

Livro de Salmos 25(24),4-5.6-7.8-9.
Mostra-me, SENHOR, os Teus caminhos e ensina-me as Tuas veredas.
Dirige-me na Tua verdade e ensina-me porque Tu és o Deus, meu salvador. Em Ti confio sempre.
Lembra-te, SENHOR, da Tua compaixão e do Teu amor, pois eles existem desde sempre.
Não recordes os meus pecados de juventude e os meus delitos. Lembra-te de mim, SENHOR, pelo Teu amor e pela Tua bondade.
O SENHOR é bom e justo; por isso ensina o caminho aos pecadores,
guia os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer o Seu caminho.

Evangelho segundo S. Mateus 18,21-35.
Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?»
Jesus Cristo respondeu: «
Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos.
Logo ao princípio, trouxeram-lhe um
que lhe devia dez mil talentos.
Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens a fim de pagar a dívida.
O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: 'Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’
Levado pela compaixão, o senhor daquele servo
mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida.
Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros
que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: 'Paga o que me deves!’
O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: 'Concede-me um prazo que eu te pagarei.’
Mas
ele não concordou e mandou-o prender até que pagasse tudo quanto lhe devia.
Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor.
O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: 'Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias porque assim mo suplicaste;
não devias também ter piedade do teu companheiro como eu tive de ti?
E o senhor, indignado,
entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia.
Assim procederá convosco meu Pai celeste,
se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração

Das liturgias bizantinas e orientais da Grande Quaresma
Oração de Santo Efrém, o Sírio

Ter piedade do próximo, como Deus teve de nós
Senhor e Mestre da minha vida,
não me abandones ao espírito de preguiça, de desencorajamento
de dominação e de vã tagarelice.

(Prostramo-nos)

Concede-me a graça de um espírito de castidade, de humildade,
de paciência e de caridade, a mim, Teu servo.

(Prostramo-nos)

Sim, meu Senhor e meu Rei, que eu veja as minhas faltas
e não condene o meu irmão.
Tu, que és bendito pelos séculos dos séculos. Amen.

(Prostramo-nos e, seguidamente, inclinamo-nos até ao chão e dizemos três vezes)

Ó Deus, tem piedade de mim, pecador.
Ó Deus, purifica-me que sou pecador.
Ó Deus, meu Criador, salva-me.
Perdoa-me os meus numerosos pecados!

Livro de Jeremias 7,23-28.
A única ordem que lhes dei foi esta: ‘Ouvi a minha voz e Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar a fim de que sejais felizes.’
Eles, porém,
não me ouviram, não prestaram atenção, seguiram os maus conselhos dos seus corações empedernidos; viraram-me as costas em vez de se voltarem para mim.
Desde o dia em que os vossos pais deixaram o Egipto até hoje, Eu vos enviei todos os meus servos, os profetas, dia após dia.
Eles, porém, não me ouviram, não me prestaram atenção; endureceram a sua cerviz e agiram pior do que os seus pais.
Tudo isto lhes transmitirás, mas não te escutarão. Chamá-los-ás e não te responderão.
Então dir-lhes-ás: ‘Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor, seu Deus, não aceitou as suas advertências. A sua lealdade desapareceu, foi banida da sua boca.’

Livro de Salmos 95(94),1-2.6-7.8-9.
Vinde, exultemos de alegria no SENHOR, aclamemos o rochedo da nossa salvação.
Vamos à sua presença com hinos de louvor, saudemo-l'O com cânticos jubilosos.
Vinde, prostremo-nos por terra, ajoelhemos diante do SENHOR que nos criou.
Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo, as ovelhas por Ele conduzidas. Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
"Não endureçais os vossos corações como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto
quando os vossos pais me provocaram e me puseram à prova, apesar de terem visto as minhas obras.

Evangelho segundo S. Lucas 11,14-23.
Jesus Cristo estava a expulsar um demónio mudo. Quando o demónio saiu, o mudo falou e a multidão ficou admirada.
Mas alguns dentre eles disseram: «É por Belzebu, chefe dos demónios, que Ele expulsa os demónios.»
Outros, para O experimentarem, reclamavam um sinal do Céu.
Mas Jesus Cristo, que conhecia os seus pensamentos, disse-lhes: «Todo o reino, dividido contra si mesmo, será devastado e cairá casa sobre casa.
Se Satanás também está dividido contra si mesmo, como há-de manter-se o seu reino? Pois vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios.
Se é por Belzebu que Eu expulso os demónios, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes.
Mas se Eu expulso os demónios pela mão de Deus, então o Reino de Deus já chegou até vós.
Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os seus bens estão em segurança;
mas se aparece um mais forte e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos.
Quem não está comigo está contra mim e quem não junta comigo, dispersa.»

Bento XVI
Encíclica « Spe Salvi » §§ 30-31 (trad. © Libreria Editrice Vaticana rev.)

«O  Reino de Deus já chegou até vós»
A época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo perfeito que, graças aos conhecimentos da ciência e a uma política cientificamente fundada, parecia tornar-se realizável. Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro «reino de Deus». Esta parecia finalmente a esperança grande e realista de que o homem necessita. Estava em condições de mobilizar – por um certo tempo – todas as energias do homem. [...] Mas com o passar do tempo tornou-se claro que esta esperança escapava sempre para mais longe. Primeiro, compreendemos que esta era talvez uma esperança para os homens de amanhã, mas não uma esperança para mim. E embora o elemento «para todos» faça parte da grande esperança – com efeito, não posso ser feliz contra e sem os demais – o certo é que uma esperança que não me diga respeito a mim pessoalmente não é sequer uma verdadeira esperança. E tornou-se evidente que esta era uma esperança contra a liberdade. [...]
Precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho, mas sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. Precisamente o ser gratificado com um dom faz parte da esperança. Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano (Jesus Cristo) e que nos amou até ao fim: a cada indivíduo e à humanidade no seu conjunto. O Seu reino não é um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais chega; o Seu reino está presente onde Ele é amado e onde o Seu amor nos alcança.

Livro de Oseias 6,1-6.
«Vinde, voltemos para o SENHOR; Ele feriu-nos, Ele nos curará; Ele fez a ferida, Ele fará o penso.
Dar-nos-á de novo a vida em dois dias, ao terceiro dia nos levantará e viveremos na Sua presença.
Conheçamos, esforcemo-nos por conhecer o SENHOR; iminente, como a aurora, está a Sua vinda; Ele virá para nós como a chuva, como a chuva da Primavera que irriga a terra.»
Que posso fazer por ti, ó Efraim? Que posso fazer por ti, ó Judá? O vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho matutino que logo se dissipa.
Por isso os castiguei duramente pelos profetas e os matei pelas palavras da minha boca e o meu julgamento resplandece como a luz
porque
Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos.
Livro de Salmos 51(50),3-4.18-19.20-21.
Tem compaixão de mim, ó Deus, pela Tua bondade; pela Tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.
Lava-me de toda a iniquidade; purifica-me dos meus delitos.
Não Te comprazes nos sacrifícios nem Te agrada qualquer holocausto que eu Te ofereça.
O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito; ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido.
Pela Tua bondade, trata bem a Sião; reconstrói os muros de Jerusalém.
Então aceitarás com agrado os sacrifícios devidos, os holocaustos e as ofertas.

Evangelho segundo S. Lucas 18,9-14.
Disse também a seguinte parábola a respeito de alguns que confiavam muito em si mesmos, tendo-se por justos e desprezando os demais:
«Dois homens subiram ao templo para orar: um era fariseu e o outro, cobrador de impostos.
O fariseu, de pé, fazia interiormente esta oração: 'Ó Deus, agradeço-Te por não ser como o resto dos homens que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos.
Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo.'
O cobrador de impostos, mantendo-se à distância, nem sequer ousava levantar os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: 'Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.'
Digo-vos:
Este voltou justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta, será humilhado e quem se humilha, será exaltado.»
Santo André de Creta (660-740), monge e bispo Grande Cânon da Liturgia Bizantina da Quaresma, 2.as Odes
(a partir da trad. de Clément, DDB, 1982, p. 119 ss. rev.)

«Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador»
Meu Deus, na Tua compaixão
derrama sobre mim o olhar do Teu amor
E recebe a minha ardente confissão.

Pequei mais do que todos os homens,
pequei só contra Ti, Senhor;
faz-me participar da Tua misericórdia,
meu Salvador, porque me criaste. [...]
Meu Redentor, manchei a Tua imagem e semelhança (Gn 1, 26), [...]
desfiz em farrapos o vestuário de perfeição
que o próprio Criador fabricou para mim e estou nu;
em seu lugar quis usar uma farpela rasgada,
obra da serpente que me seduziu (Gn 3, 1-5). [...]
Fiquei fascinado com a beleza
da árvore que traiu a minha inteligência:
agora estou nu e coberto de vergonha. [...]

O pecado me revestiu de túnicas de pele (Gn 3, 21),
agora que fui despojado
das vestes tecidas pelo próprio Deus. [...]
E como a prostituta, grito:
pequei contra Ti, só contra Ti.
Ó Salvador, acolhe as minhas lágrimas
como aceitaste o perfume da pecadora (Lc 7, 36 ss.)

E como o publicano, grito:
tem piedade de mim, ó Salvador.
Perdoa-me porque de toda a descendência de Adão
ninguém pecou como eu. [...]
Prostrado como David (2 Sm 12),
estou coberto de lama;
Mas assim como ele se lavou nas próprias lágrimas,
lava-me Tu também, Senhor!

Ouve os gemidos da minha alma
e os suspiros do meu coração;
acolhe as minhas lágrimas
e salva-me, meu Redentor.

Porque Tu amas os homens
e queres que todos se salvem.
Faz-me voltar à Tua bondade
e nela me recebe
porque estou arrependido.

Livro de Isaías 65,17-21.
Olhai, Eu vou criar um novo céu e uma nova terra; o passado não será mais lembrado e não voltará mais à memória.
Alegrem-se e rejubilem para sempre por aquilo que vou criar. Olhai, vou criar uma Jerusalém cheia de alegria e um povo cheio de entusiasmo.
Eu mesmo me alegrarei com esta Jerusalém e me entusiasmarei com o meu povo. Doravante não se ouvirão nela choros nem lamentos.
Não haverá ali criança que morra de tenra idade, nem adulto que não chegue à velhice, pois será ainda novo aquele que morrer aos cem anos e quem não chegar aos cem anos será como um amaldiçoado.
Construirão casas e habitarão nelas, plantarão vinhas e comerão o seu fruto.

Livro de Salmos 30(29),2.4.5-6.11-13.
SENHOR, eu Te enalteço porque me salvaste e não permitiste que os inimigos se rissem de mim.
SENHOR, livraste a minha alma da mansão dos mortos, poupaste-me a vida para eu não descer ao túmulo.
Cantai salmos ao SENHOR, vós que O amais, e agradecei-Lhe, lembrando a Sua santidade.
A Sua indignação dura apenas um instante, mas a Sua benevolência é para toda a vida. Ao cair da noite, vem o pranto e, ao amanhecer, volta a alegria.

Ouve-me, SENHOR, tem compaixão de mim; SENHOR, vem em meu auxílio.
Tu converteste o meu pranto em festa, tiraste-me o luto e vestiste-me de júbilo.
Por isso o meu coração Te cantará sem cessar. SENHOR, meu Deus, eu Te louvarei para sempre.

Evangelho segundo S. João 4,43-54.
Passados aqueles dois dias, Jesus Cristo partiu dali para a Galileia.
Ele mesmo tinha declarado que
um profeta não é estimado na sua própria terra.
No entanto, quando chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem por terem visto o que fizera em Jerusalém durante a festa; pois eles também tinham ido à festa.
Veio, pois, novamente a Caná da Galileia, onde tinha convertido a água em vinho. Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente.
Quando ouviu dizer que Jesus Cristo vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-lhe que descesse até lá para lhe curar o filho que estava a morrer.
Então Jesus Cristo disse-lhe: «
Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais
Respondeu-lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá antes que o meu filho morra.»
Disse-lhe Jesus Cristo: «
Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus Cristo lhe disse e pôs-se a caminho.
Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.»
Perguntou-lhes, então, a que horas ele se tinha sentido melhor. Responderam: «A febre deixou-o há pouco, depois do meio-dia.»
O pai viu, então, que tinha sido exactamente àquela hora que Jesus Cristo lhe dissera: «O teu filho está salvo». E acreditou ele e todos os da sua casa.
Jesus Cristo realizou este segundo sinal miraculoso ao ir da Judeia para a Galileia.
Balduino de Ford (?-c. 1190), abade cistercense Homilia sobre a carta aos Hebreus 4,12; PL 204, 451-453

O homem acreditou nas palavras que Jesus Cristo lhe disse
«A palavra de Deus é viva» (Heb 4, 12). Toda a grandeza, a força e a sabedoria da palavra de Deus, eis o que o Apóstolo demonstra com as suas palavras àqueles que procuram Jesus Cristo, Verbo, Força e Sabedoria de Deus. Este Verbo estava no início junto do Pai, é eterno com Ele (Jo 1, 1). E foi revelado a seu tempo aos Apóstolos, anunciado por eles e recebido humildemente pela população dos crentes. [...]
Ela está viva, esta Palavra a Quem o Pai deu o dom da vida em Si mesma, tal como Ele a possuía n'Ele mesmo (Jo 5, 26). Ela está, portanto, não só viva, mas é a própria vida como está escrito: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6). E porque é a vida, está viva e dá vida, pois «como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem Ele quer» (Jo 5, 21). Ela dá vida quando chama Lázaro para fora do túmulo e lhe diz: «Lázaro, vem para fora !» (Jo 11, 43) Quando esta palavra é proclamada, a voz que a pronuncia ressoa no exterior com tal força que, percebida no interior, faz reviver os mortos e ao acordar a fé, suscita verdadeiros filhos de Abraão (Mt 3, 9). Sim, ela está viva, esta Palavra, viva no coração do Pai, na boca daquele que a proclama, no coração daquele que crê e que ama.
Livro de Ezequiel 47,1-9.12.
Conduziu-me para a entrada do templo e eis que saía água da sua parte subterrânea, em direcção ao oriente porque o templo estava voltado para oriente. A água brotava da parte de baixo do lado direito do templo, a sul do altar.
Fez-me sair pelo pórtico setentrional e contornar o templo por fora até ao pórtico exterior oriental; vi rebentar a água do lado direito.
O homem avançou para oriente com o cordel que tinha na mão e mediu mil côvados; depois fez-me atravessar a água; ela chegava-me até aos tornozelos.
Mediu ainda mil côvados e fez-me atravessar a água; ela chegava-me aos joelhos. Mediu ainda mil côvados e fez-me atravessar a água; chegava-me aos quadris.
Mediu ainda mil côvados; era uma torrente que eu não conseguia atravessar porque a água era tão profunda que era necessário nadar. Efectivamente, era uma torrente que não se podia atravessar.
E Ele disse-me: "Viste, filho de homem?" E levou-me até à beira da torrente.
Quando aí cheguei, eis que havia à beira da torrente grande quantidade de árvores em cada uma das margens.
Ele disse-me: "Esta água corre para o território oriental, desce para a Arabá e dirige-se para o mar; quando chegar ao mar, as suas águas tornar-se-ão salubres.
Por onde quer que a torrente passar, todo o ser vivo que se move, viverá. O peixe será muito abundante porque aonde quer que esta água chegar, tornar-se-á salubre e a vida desenvolver-se-á por toda a parte aonde ela chegar.
Ao longo da torrente, nas suas margens, crescerá toda a sorte de árvores frutíferas, cuja folhagem não murchará e cujos frutos nunca cessam: produzirão todos os meses frutos novos porque esta água vem do Santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas, de remédio."
Livro de Salmos 46(45),2-3.5-6.8-9.
Deus é o nosso refúgio e a nossa força, ajuda permanente nos momentos de angústia.
Por isso, não temos medo, mesmo que a terra trema, mesmo que as montanhas se afundem no mar;
Um rio, com os seus canais, alegra a cidade de Deus, a mais santa entre as moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela, não pode vacilar; Deus irá em seu auxílio ao romper do dia.

O SENHOR do universo está connosco! O Deus de Jacob é a nossa fortaleza!
Vinde e contemplai as obras do SENHOR, as maravilhas que Ele realizou na Terra.

Evangelho segundo S. João 5,1-16.
Depois disto, havia uma festa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.
Em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, há uma piscina, em hebraico chamada Betzatá. Tem cinco pórticos
e neles jaziam numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos.
Estava ali um homem que padecia da sua doença há trinta e oito anos.
Jesus Cristo, ao vê-lo prostrado e sabendo que já levava muito tempo assim, disse-lhe:«
Queres ficar são?»
Respondeu-lhe o doente: «Senhor, não tenho ninguém que me meta na piscina quando se agita a água, pois, enquanto eu vou, algum outro desce antes de mim».
Disse-lhe Jesus Cristo: «
Levanta-te, toma a tua enxerga e anda
E no mesmo instante, aquele homem ficou são, agarrou na enxerga e começou a andar. Ora, aquele dia era sábado.
Por isso os judeus diziam ao que tinha sido curado: «É sábado e não te é permitido transportar a enxerga.»
Ele respondeu-lhes: «Quem me curou é que me disse: 'Toma a tua enxerga e anda'.»
Perguntaram-lhe então: «Quem é esse homem que te disse: 'Toma a tua enxerga e anda'?»
Mas o que tinha sido curado não sabia quem era porque Jesus Cristo se tinha afastado da multidão ali reunida.
Mais tarde, Jesus Cristo encontrou-o no templo e disse-lhe: «Vê lá: ficaste curado.
Não peques mais para que não te suceda coisa ainda pior
O homem foi-se embora e comunicou aos judeus que fora Jesus Cristo quem o tinha curado.
E foi por isto, por Jesus Cristo realizar tais coisas em dia de sábado, que os judeus começaram a persegui-lo.
São Romano, o Melodista (c. 560), compositor de hinos Cântico «Os novos baptizados», str. 1-5,19
(a partir da trad. SC 283, pp. 343ss.)

A Quaresma, última preparação daqueles que serão baptizados na Páscoa
Nós, os novos baptizados, os filhos do baptistério que acabámos de receber a luz,agredecemos-Te, Cristo Jesus. Tu iluminaste-nos com a luz do Teu rosto, Tu revestiste-nos com a veste que convém às Tuas núpcias (Sl 4, 7; Mt 22, 11). Glória a Ti, glória a Ti porque tal foi do Teu agrado.
Quem dirá, quem mostrará ao primeiro homem criado, Adão, a beleza, o brilho, a dignidade dos seus filhos? Quem contará também à infeliz Eva que os seus descendentes se tornaram reis, revestidos de uma veste de glória e que com grande glória glorificam Aquele que os glorificou, brilhantes de corpo, de espírito e de veste? [...] E quem os exaltou? Foi, evidentemente, a Sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. [...]
Tu és brilhante e radioso, Adão. [...] Ao ver-te, o teu adversário definha e exclama: Quem é este que vejo? Não sei. O pó foi renovado (Gn 2, 7), as cinzas foram divinizadas. O pobre doente foi convidado, foi refrescado, entrou e sentou-se à mesa, foi conduzido ao banquete e tem a audácia de comer e o desplante de beber Aquele que o criou. E quem Lho deu? Foi, evidentemente, a Sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado.
Esqueceu as suas culpas antigas, não ostenta a menor cicatriz dos primeiros ferimentos. Abandonou os seus longos anos de paralisia na piscina, como tinha feito o paralítico, e deixou de trazer o leito aos ombros, mas traz às costas a cruz d'Aquele que teve piedade dele [...]. Outrora, o Amigo dos homens (Sap 1, 6) lavou muitos homens nas águas, mas eles não brilharam assim; àqueles, porém, a Ressurreição tornou-os luminosos. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. [...]
Eis-te recriado, novo baptizado, eis-te renovado; não curves as costas ao peso dos pecados. Possuis a cruz como cajado, apoia-te nela. Leva-a à tua oração, leva-a para a mesa, leva-a para o leito, leva-a para todo o lado como título de glória. [...] Grita aos demónios: Com a cruz na mão, ergo-me, louvando a Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cristianismo 11

Livro de Jeremias 18,18-20.

Eles disseram: «Vinde e tramemos uma conspiração contra Jeremias porque não nos faltará a lei se faltar um sacerdote, nem o conselho se faltar um sábio, nem a palavra divina por falta de um profeta! Vinde, vamos difamá-lo e não prestemos atenção às suas palavras!»
Senhor, ouve-me! Escuta o que dizem os meus adversários.
É assim que se paga o bem com o mal? Abriram uma cova para me tirarem a vida. Lembra-te de que me apresentei diante de ti a fim de interceder por eles e afastar deles a tua cólera.
Livro de Salmos 31(30),5-6.14.15-16.
Livra-me da cilada que me armaram porque Tu és o meu refúgio.
Nas Tuas mãos entrego o meu espírito; SENHOR, Deus fiel, salva-me.
Na verdade, ouvi os gritos da multidão; o terror envolveu-me porque conspiraram contra mim e decidiram tirar-me a vida.
Mas eu confio em Ti, SENHOR e digo: "Tu és o meu Deus.

O meu destino está nas Tuas mãos; livra-me dos meus inimigos e perseguidores.
Evangelho segundo S. Mateus 20,17-28.
Ao subir a Jerusalém, pelo caminho, chamou à parte os Doze e disse-lhes:
«Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei que o vão condenar à morte.
Hão-de entregá-lo aos pagãos que o vão escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia.»
Aproximou-se então de Jesus Cristo a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante d'Ele para lhe fazer um pedido.
«Que queres?» perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à Tua direita e o outro à Tua esquerda, no Teu Reino.»
Jesus Cristo retorquiu:
«Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.»
Jesus Cristo replicou-lhes:
«Na verdade, bebereis o meu cálice; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.»
Ouvindo isto, os outros dez ficaram indignados com os dois irmãos.
Jesus Cristo chamou-os e disse-lhes:
«Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e
quem, no meio de vós
quiser ser o primeiro, seja vosso servo (aquele que serve; presta serviço ao outros. O princípio da democracia).
Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.»


Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Confissões, XIII, 9

«Vamos subir a Jerusalém»
Dá-Te a mim, meu Deus, dá-Te sempre a mim. [...] Descansamos no dom do Teu Espírito; aí Te gozamos, aí está o nosso bem e o nosso repouso. Aí o amor nos educa e o Teu Espírito que é bom, exalta a nossa baixeza, retirando-a das portas da morte (Sl 9, 14). Na boa vontade, encontramos a paz.
Um corpo, pelo seu peso, tende para o seu lugar próprio; o peso não significa necessariamente ir para baixo, mas para o lugar próprio de cada coisa. O fogo tende para cima, a pedra para baixo [...], cada coisa para o seu lugar próprio; o óleo sobe para cima da água, a água desce para baixo do óleo. Se uma coisa não está no seu lugar, não está em repouso; mas quando encontra o seu lugar, fica em repouso.
O meu peso é o meu amor: é ele que me leva para onde me leva. O Teu dom inflama-nos e leva-nos para cima; ele abrasa-nos e nós partimos. [...] O Teu fogo, o Teu fogo bom, faz-nos arder e nós vamos, subimos para a paz da Jerusalém celeste – porque encontrei a minha alegria quando me disseram: «Vamos para a casa do Senhor!» (Sl 121, 1). É para aí que a boa vontade nos conduz por ser o nosso lugar, aí onde não desejaremos mais nada do que assim permanecer para toda a eternidade.

Livro de Jeremias 17,5-10.
Isto diz o Senhor: Maldito aquele que confia no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do Senhor.
Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o sente, pois habita na secura do deserto, numa terra salobra onde ninguém mora.
Bendito o homem que confia no Senhor, que tem no Senhor a sua esperança.
É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano e não deixará de dar fruto.
Nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer?
Eu, o Senhor, penetro os corações e sondo as entranhas a fim de recompensar cada um pela sua conduta e pelos frutos das suas acções.

Livro de Salmos 1,1-2.3.4.6.
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem toma parte na reunião dos libertinos;
antes põe o seu enlevo na lei do SENHOR e nela medita dia e noite.
É como a árvore plantada à beira da água corrente: dá fruto na estação própria e a sua folhagem não murcha; em tudo o que faz, é bem sucedido.
Mas os ímpios não são assim! São como a palha que o vento leva.

O SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à perdição.

Evangelho segundo S. Lucas 16,19-31.
«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes.
Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas.
Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas.
Ora o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio.
Então ergueu a voz e disse: 'Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua porque estou atormentado nestas chamas.'
Abraão respondeu-lhe: 'Filho,
lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora ele é consolado, enquanto tu és atormentado.
Além disso, entre nós e vós há um grande abismo de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo nem tão pouco vir daí para junto de nós.'
O rico insistiu: 'Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos;
que os previna a fim de que não venham também para este lugar de tormento.'
Disse-lhe Abraão: 'Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!'
Replicou-lhe ele: 'Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.'
Abraão respondeu-lhe: 'Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.'»

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Não Há Maior Amor

«Um pobre [...] jazia ao seu portão»
Jesus Cristo disse: «Tive fome e destes-Me de comer» (Mt 25, 35). Teve fome não só de pão, mas também da estima acolhedora que nos permite sentirmo-nos amados, reconhecidos, sermos alguém aos olhos de outrem. Foi desprovido não só da Sua roupa, mas também da dignidade e do respeito humano pela grande injustiça cometida para com o pobre que é precisamente o ser-se desprezado por ser pobre. Foi privado não só de um tecto, mas também sofreu as privações por que passam os encarcerados, os rejeitados e os escorraçados, aqueles que vagueiam pelo mundo sem ter ninguém que se ocupe deles.
Ao desceres a rua, sem outro propósito senão esse, talvez atentes naquele homem, ali na esquina e vás ao seu encontro. Talvez ele fique de pé atrás, mas tu permaneces lá, diante dele, na sua frente. Tens de irradiar a presença que trazes dentro de ti (Jesus Cristo) com o amor e a atenção para com o homem a quem te diriges. E porquê? Porque, para ti, se trata de Jesus Cristo. Sim, é Jesus Cristo, mas não pode receber-te em Sua casa — eis porque tens de ser tu a dirigir-te a Ele. Ele está escondido ali, naquela pessoa. Jesus Cristo, oculto no mais pequenino dos irmãos (Mt 25, 40), não só cheio de fome por um bocado de pão, mas também por amor, por reconhecimento, por ser tido como alguém com valor.

Livro de Isaías 7,10-14.
O SENHOR mandou dizer de novo a Acaz:
«Pede ao SENHOR, teu Deus, um sinal quer no fundo dos abismos quer lá no alto dos céus.»
Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o SENHOR.»
Isaías respondeu: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus?
Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel.

Livro de Salmos 40(39),7-8.9.10.11.
Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas abriste-me os ouvidos para escutar; não pediste holocaustos nem vítimas.
Então eu disse: "Aqui estou! No Livro da Lei está escrito aquilo que devo fazer."
Esse é o meu desejo, ó meu Deus; a tua lei está dentro do meu coração.
Anunciei a Tua justiça na grande assembleia; Tu bem sabes, SENHOR, que não fechei os meus lábios.
Não escondi a Tua justiça no fundo do coração; proclamei a Tua fidelidade e a Tua salvação. Não ocultei à grande assembleia a Tua bondade e a Tua verdade.

Carta aos Hebreus 10,4-10.
(...) uma vez que é impossível que o sangue dos touros e dos bodes apague os pecados.
Por isso ao entrar no mundo, Jesus Cristo diz:
Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo.
Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados
.
Então, Eu disse: Eis que venho – como está escrito no Livro a meu respeito – para fazer, ó Deus, a Tua vontade.
Disse primeiro: Não quiseste nem Te agradaram sacrifícios, oferendas e holocaustos pelos pecados – e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei.
Disse em seguida: Eis que venho para fazer a Tua vontade.
Suprime assim o primeiro culto, para instaurar o segundo.
E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre.

Evangelho segundo S. Lucas 1,26-38.
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.»
Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação.
Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus.
Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho ao qual porás o nome de Jesus.
Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David,
reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?»
O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus.
Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril,
porque nada é impossível a Deus.»
Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
Tertuliano (c. 155-v. 220), teólogo A Carne de Jesus Cristo, 17; PL 2, 781 (cf. SC 126, p. 281)

«Faça-se em mim segundo a tua palavra»
Porque é que o Filho de Deus nasceu de uma Virgem? [...] Era necessário um modo totalmente novo de nascer para Aquele que ia consagrar uma nova ordem de nascimento. Isaías tinha profetizado que o Senhor anunciaria esta maravilha através de um sinal. Que sinal? «Eis que uma virgem vai conceber e dará à luz um filho.» Sim, a Virgem concebeu e deu à luz o Emanuel, Deus connosco (Is 7, 14; Mt 1, 23). Eis a nova ordem de nascimento: o homem nasce em Deus porque Deus nasce no homem; Deus faz-Se (incarna na) carne para regenerar a carne pela semente nova do Espírito e lavar todas as manchas passadas.
Toda esta nova ordem foi prefigurada no Antigo Testamento porque na intenção divina o primeiro homem nasceu para Deus através de uma virgem. Com efeito, a terra era ainda virgem, o trabalho do homem não a tinha tocado, a semente não tinha sido ainda lançada quando Deus a tomou para dar forma ao homem e torná-lo «um ser vivo» (Gn 2, 5.7). Por conseguinte, se o primeiro Adão foi moldado de terra, é justo que o segundo, a quem o apóstolo Paulo chama «o novo Adão», seja retirado por Deus de uma terra virgem, ou seja, de uma carne cuja virgindade permanecia inviolada, para se tornar «Espírito que vivifica» (1Cor 15, 45). [...]
Quando quis recuperar «a Sua imagem e a Sua semelhança» (Gn 1, 26) caída sob o poder do demónio, Deus agiu de forma igual à do momento em que o criou. Eva era ainda virgem quando acolheu a palavra que originaria a morte; por conseguinte, seria também de uma virgem que devia descer a Palavra de Deus que ergueria o edifício da Vida. [...] Eva confiou na serpente; Maria teve fé em Gabriel. O pecado que Eva, crendo, cometeu, foi Maria, crendo, que o apagou. [...] A palavra do diabo foi para Eva a semente da sua humilhação e das suas dores de parto (Gn 3, 16) e ela trouxe ao mundo o assassino do seu irmão (4, 8). Pelo contrário, Maria trouxe ao mundo um Filho que haveria de salvar Israel, Seu irmão.

Livro de Miqueias 7,14-15.18-20.
Apascenta com o cajado o teu povo, o rebanho da tua herança, os que habitam isolados nas florestas no meio dos prados. Sejam eles apascentados em Basan e Guilead, como nos dias antigos.
Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos tiraste do Egipto.
Qual é o Deus que, como Tu, apaga a iniquidade e perdoa o pecado do resto da sua herança?
Não se obstina na sua cólera porque prefere a bondade.
Uma vez mais, terá compaixão de nós, apagará as nossas iniquidades e lançará os nossos pecados ao fundo do mar.
Mostrarás a tua fidelidade a Jacob e a tua bondade a Abraão, como juraste a nossos pais, desde os tempos antigos.

Livro de Salmos 103(102),1-2.3-4.9-10.11-12.
Bendiz, ó minha alma, o SENHOR e todo o meu ser louve o Seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o SENHOR e não esqueças nenhum dos Seus benefícios.
Ele que perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades.
Ele que resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e de ternura.

Não está sempre a repreender-nos, nem a Sua ira dura para sempre.
Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas.
Como é grande a distância dos céus à Terra, assim são grandes os Seus favores para os que O adoram.
Como o Oriente está afastado do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados.

Evangelho segundo S. Lucas 15,1-3.11-32.
Aproximavam-se d'Ele todos os cobradores de impostos e pecadores para O ouvirem.
Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.»
Jesus Cristo propôs-lhes, então, esta parábola:
Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.' E o pai repartiu os bens entre os dois.
Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada.
Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações.
Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos.
Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
E, caindo em si, disse: 'Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância e eu aqui a morrer de fome!
Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.'
E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos.
O filho disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.'
Mas o pai disse aos seus servos: 'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos
porque
este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.' E a festa principiou.
Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
Disse-lhe ele: 'O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo porque chegou são e salvo.'
Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse.
Respondendo ao pai, disse-lhe: 'Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos;
e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.'
O pai respondeu-lhe: 'Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.'»
Isaac de l'Étoile (?-c. 1171), monge cistercense 2º Sermão para o dia de Todos os Santos §§ 13-20
(a partir da trad. Brésard, 2000 ans A, p. 84)

«E caindo em si, disse, [...]: e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai»
«Felizes os que choram porque serão consolados» (Mt 5, 4). Com estas palavras, o Senhor quer fazer-nos compreender que o caminho da alegria são as lágrimas. Pela desolação, chega-se à consolação; é perdendo a vida que a encontramos, rejeitando-a que a possuímos, odiando-a que a amamos, desprezando-a que a salvamos (cf Lc 9, 23ss.). Se queres conhecer-te a ti mesmo e superar-te, entra dentro de ti e não te procures fora de ti. [...] Por conseguinte, cai em ti, pecador, cai onde existes verdadeiramente: no teu coração. Exteriormente, és um animal à imagem do mundo [...]; interiormente, és um homem, à imagem de Deus (Gn 1, 26) e por isso capaz de ser deificado.
Será por isso, irmãos, que o homem que cai em si se sente distante como o filho pródigo, numa região diferente, numa terra estrangeira, onde é maltratado e chora ao lembrar-se de seu pai e da sua pátria? [...] «Adão, onde estás?» (Gn 3, 9) Talvez ainda na sombra para não te veres a ti mesmo: cosendo as folhas da vaidade umas às outras para cobrires a tua vergonha (Gn 3, 7), olhando o que está em teu redor e o que é teu porque os teus olhos são grandes aberturas para tais coisas. Mas olha para dentro de ti, olha para ti: é aí que se encontra o teu maior motivo de vergonha. [...]
É evidente, irmãos: em parte vivemos exteriormente a nós. [...] É por isso que a Sabedoria tem sempre no coração o convite para a casa do luto antes de o fazer para a casa do banquete (Eccl 7, 3), ou seja, chama para dentro de si mesmo o homem que estava fora de si próprio, dizendo: «Felizes os que choram» e noutra passagem: «Ai de vós, os que agora rides» (Lc 6, 25). [...] Meus irmãos, choremos na presença do Senhor: que a Sua bondade O leve a perdoar-nos. [...] Felizes os que choram, não porque choram, mas porque serão consolados. As lágrimas são o caminho; a consolação é a bem-aventurança.

Livro de 2º Reis 5,1-15.
Naamã, general dos exércitos do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante do seu amo e era muito estimado porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem robusto e valente, mas leproso.
Ora tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem donzela que ficou ao serviço da mulher de Naamã.
Ela disse à sua senhora: «Ah, se o meu amo fosse ter com o profeta que vive na Samaria, certamente ficava curado da lepra!»
Naamã foi contar ao seu soberano aquilo que dissera a jovem israelita.
O rei da Síria respondeu-lhe: «Vai, que eu vou escrever uma carta ao rei de Israel.» Naamã partiu, levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa.
Levou ao rei de Israel uma carta escrita nestes termos: «Juntamente com esta carta, aí te mando o meu servo Naamã para que o cures da sua lepra.»
Ao terminar de ler a carta, o rei de Israel rasgou as suas vestes e exclamou: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida de modo que me enviem alguém para eu o curar da lepra? Reparai e vede como ele busca pretextos contra mim.»
Mas Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei rasgara as suas vestes e mandou-lhe dizer: «Porque rasgaste as tuas vestes? Que ele venha ter comigo e saberá que há um profeta em Israel.»
Chegou, pois, Naamã com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu.
Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: «Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.»
Naamã, despeitado, retirou-se, dizendo: «Pensava que ele sairia a receber-me e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, colocaria a sua mão no lugar infectado e me curaria da lepra.
Porventura, os rios de Damasco, o Abaná e o Parpar, não são acaso melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia lavar neles e ficar limpo?» E, virando costas, retirou-se indignado.
Mas os seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias fazer? Quanto mais agora, ao dizer-te: ‘Lava-te e ficarás curado.’»
Naamã desceu ao Jordão e lavou-se sete vezes como lhe ordenara o homem de Deus e a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.
Voltou, então, ao homem de Deus com toda a sua comitiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo.»

Livro de Salmos 42(41),2.3.43(42),3.4.
Como suspira a corça pelas águas correntes, assim a minha alma suspira por ti, ó Deus.
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando poderei contemplar (a face de –
Deus é invisível) Deus?
Envia a Tua luz e a Tua verdade para que elas me guiem e conduzam à Tua montanha santa, à Tua morada.
Eu irei ao altar de Deus, ao Deus que é a alegria da minha vida. Ao som da harpa Te louvarei, ó Deus, meu Deus.

Evangelho segundo S. Lucas 4,24-30.
Jesus Cristo acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a Terra;
contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon.
Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naamã.»
Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor.
E, erguendo-se, lançaram-n'O fora da cidade e levaram-n'O ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada a fim de O precipitarem dali abaixo.
Mas, passando pelo meio deles, Jesus Cristo seguiu o Seu caminho.

Santo Ambrósio (340 ?-397), bispo de Milão e Doutor da Igreja Os Mistérios, § 16. 18-21
(a partir da trad. de José de Leão Cordeiro, S. N. L., 2003, p. 530-1/SC 25, p. 112)

A Quaresma leva à ressurreição pelo baptismo
Naamã era sírio e estava leproso, sem que ninguém o pudesse curar. Então uma jovem prisioneira disse-lhe que havia em Israel um profeta que podia curá-lo da lepra. [...] Já é tempo de descobrires quem era aquela jovem prisioneira. Era a figura da assembleia mais nova de entre as nações, isto é, da Igreja do Senhor. Antes quando não possuía ainda a liberdade da graça, fora humilhada pelo cativeiro do pecado. Mas a seu conselho, este povo que não era ainda um povo escutou a palavra dos profetas, da qual duvidara durante muito tempo. Em seguida, quando acreditou que devia segui-la, o povo foi purificado de todo o contágio do pecado. Naamã duvidara antes de ser curado; mas tu já foste curado e por isso não deves duvidar.
Já antes te foi dito que não devias acreditar apenas no que vês ao aproximares-te do baptistério para que digas: «É este o «grande mistério que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais passou pelo pensamento do homem» (1Cor 2, 9)? Eu vejo as águas que via todos os dias. Vão purificar-me estas águas a que tantas vezes desci sem nunca ter sido purificado?» Deves reconhecer que a água não purifica sem o Espírito. Por isso, leste que no baptismo as três testemunhas são uma só: a água, o sangue e o Espírito (1Jo 5, 7-8) porque, se prescindires de uma delas, já não há sacramento do baptismo. Que é a água sem a cruz de Jesus Cristo? É um elemento comum, sem nenhuma eficácia sacramental. Mas também é verdade que sem a água não há mistério da regeneração: «quem não renascer da água e do Espírito não entrará no reino de Deus» (Jo 3, 5). Também o catecúmeno acredita na cruz do Senhor Jesus Cristo com a qual é assinalado; mas, se não for baptizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, não pode receber o perdão dos pecados nem obter o dom da graça espiritual.
Por isso o sírio Naamã mergulhou sete vezes, segundo a Lei; tu, porém, foste baptizado em nome da Trindade. [...] Proclamaste a tua fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. [...] Morreste para o mundo, ressuscitaste para Deus e, de certo modo sepultado naquele elemento do mundo, morto para o pecado, ressuscitaste para a vida eterna (Rom 6, 4).

Livro de Deuteronómio 4,1.5-9.
«Agora, Israel, ouve as leis e os preceitos que eu hoje vos ensino. Ponde-os em prática para que vivais e chegueis a possuir a terra que o Senhor, Deus dos vossos pais, vos há-de dar.
Vede: ensinei-vos leis e preceitos como o Senhor, meu Deus, me ordenou; assim fareis na terra que ides possuir.
Observai-os e ponde-os em prática porque isso manifestará a vossa sabedoria e a vossa inteligência aos olhos dos povos que, ao terem conhecimento de todas estas leis, dirão: ‘Que povo sábio e inteligente é esta grande nação!’
Com efeito, que grande nação haverá que tenha um deus tão próximo de si como está próximo de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?
E que grande nação haverá que possua leis e preceitos tão justos como esta lei que eu hoje vos apresento?
Toma, pois, cuidado contigo! Guarda-te bem de esquecer os factos que os teus olhos viram; que eles nunca se afastem do teu coração em todos os dias da tua vida. Ensina-os aos teus filhos e aos filhos dos teus filhos.

Livro de Salmos 147,12-13.15-16.19-20.
Glorifica, Jerusalém, o SENHOR; louva, Sião, o teu Deus.
Ele reforçou os ferrolhos das tuas portas e abençoou os teus filhos dentro de ti;
Ele manda as suas ordens à Terra e a Sua palavra corre velozmente;
faz cair a neve, branca como a lã, espalha a geada como se fosse cinza;
Ele revela os Seus planos a Jacob, os Seus preceitos e as Suas sentenças a Israel.
Não fez assim com nenhum outro povo, não lhes deu a conhecer os Seus mandamentos.

Evangelho segundo S. Mateus 5,17-19.
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição.
Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a Terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas
aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu.
São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja Homilia 12; PG 77, 1041ss.
(a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 174)

«Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição»
Vimos Jesus Cristo obedecer às leis de Moisés, o quer dizer que Deus, o legislador, se submetia, como um homem, às Suas próprias leis. É o que nos ensina São Paulo [...]: «Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei» (Gal 4, 4-5). Por conseguinte, Jesus Cristo resgatou da maldição da Lei os que a ela estavam sujeitos, mas que não a observavam. De que modo os resgatou? Aperfeiçoando esta Lei; dito de outro modo, a fim de apagar a transgressão da qual Adão se tornou culpado, Ele mostrou-Se obediente e dócil para com Deus (e o ) Pai em nosso lugar porque está escrito: «Como pela desobediência de um só, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornaram justos» (Rom 5, 19). Connosco, Ele curvou a cabeça perante a Lei e fê-lo segundo o plano divino da Incarnação. Com efeito, «convém que cumpramos assim toda a justiça» (Mt 3, 15).
Depois de ter tomado completamente a condição de servo (Fil 2, 7), precisamente porque a Sua condição humana o agregava ao número dos que suportavam o jugo, pagou o montante do imposto aos cobradores como toda a gente ainda que, por natureza, e como Filho, estivesse dispensado disso. Por conseguinte, quando tu O vês observar a Lei, não fiques chocado, não ponhas no rol de servos Aquele que é livre, mas avalia pelo pensamento a profundidade de um tal desígnio.

Livro de Oseias 14,2-10.
Volta, Israel, ao SENHOR teu Deus porque caíste por causa dos teus pecados.
Tomai convosco palavras de arrependimento. E voltai ao SENHOR, dizendo-lhe: «Perdoa todos os nossos pecados e acolhe favoravelmente o sacrifício que oferecemos, a homenagem dos nossos lábios.
A Assíria não nos salvará; não montaremos a cavalo e nunca mais chamaremos nosso Deus a uma obra das nossas mãos, pois só junto de ti o órfão encontra compaixão.»
Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração porque a minha cólera se afastou deles.
Serei para Israel como o orvalho: florescerá como um lírio e deitará raízes como um cedro do Líbano.
Os seus ramos estender-se-ão ao longe, a sua opulência será como a da oliveira, o seu perfume como o odor do Líbano.
Regressarão os que habitavam à sua sombra; renascerão como o trigo, darão rebentos como a videira e a sua fama será como a do vinho do Líbano.
Efraim, que tenho Eu ainda a ver com os ídolos? Sou Eu quem responde e olha por ele. Eu sou como um cipreste sempre verdejante; é de mim que procede o teu fruto.
Quem é sábio para compreender estas coisas, inteligente para as conhecer? Porque os caminhos do SENHOR são rectos, os justos andarão por eles, mas os pecadores tropeçarão neles.

Livro de Salmos 81(80),6-8.9.10-11.14.17.
(...) Lei que Ele deu a José, quando saiu da terra do Egipto. Ouço uma língua desconhecida, que diz:
"Aliviei os seus ombros do fardo, as suas mãos livraram-se de carregar o cesto.
Na angústia chamaste por mim e Eu salvei-te, respondi-te escondido no trovão, pus-te à prova junto das águas de Meribá.
Ouve, meu povo, a minha advertência; oxalá, Israel, me prestes ouvidos:

'Não terás contigo um deus estrangeiro, nem te prostrarás diante de um deus estranho.
Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirou da terra do Egipto. Abre a tua boca e Eu enchê-la-ei.'
Se o meu povo me tivesse escutado! Se Israel tivesse seguido os meus caminhos!
Alimentaria o meu povo com a flor do trigo e saciá-lo-ia com o mel silvestre."

Evangelho segundo S. Marcos 12,28-34.
Aproximou-se dele um escriba que os tinha ouvido discutir e, vendo que Jesus Cristo lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?»
Jesus Cristo respondeu:
«O primeiro é: Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor;
amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças.
O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.»

O escriba disse-lhe: «Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e não existe outro além dele;
e amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.»
Vendo que ele respondera com sabedoria, Jesus Cristo disse: «Não estás longe do Reino de Deus.» E ninguém mais ousava interrogá-lo.

Concílio Vaticano II
Constituição dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», § 42

Todos os cristãos são chamados à santidade
«Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo. 4, 16). Ora Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado (cf. Rom. 5, 5). Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor d'Ele. Para que esta caridade, como boa semente, cresça e frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de bom grado a palavra de Deus e cumprir, com a ajuda da graça, a Sua vontade, participar frequentemente nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, e nas funções sagradas, dando-se continuamente à oração, à abnegação de si mesmo, ao serviço efectivo de seus irmãos e a toda a espécie de virtude; pois a caridade, vínculo da perfeição e plenitude da lei (cf. Col. 3, 14; Rom. 13, 10), é que dirige todos os meios de santificação, os informa e leva a seu fim. É, pois, pela caridade para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.

Livro de 1º Samuel 16,1.6-7.10-13.
O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.»
Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor.»
Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa;
o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração
Jessé apresentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.»
E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.» Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes de ele ter chegado.»
Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.»
Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na presença dos seus irmãos. E a partir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá.
Livro de Salmos 23(22),1-3.4.5.6.
O SENHOR é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo. A Tua vara e o Teu cajado dão-me confiança.

Preparas a mesa para mim à vista dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; a minha taça transbordou.
Na verdade, a Tua bondade e o Teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.

Carta aos Efésios 5,8-14.
É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz –
pois
o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade
procurando discernir o que é agradável ao Senhor.
E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, denunciai-as.
Porque o que por eles é feito às escondidas até dizê-lo é vergonhoso.
Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz;
pois tudo o que é posto às claras, é luz. Por isso se diz: «Desperta, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e
Cristo brilhará sobre ti».

Evangelho segundo S. João 9,1-41.
Ao passar, Jesus Cristo viu um homem cego de nascença.
Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: «Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele ou os seus pais?»
Jesus Cristo respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus.
Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia.
Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar (nem os batismos cristãos).
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.»
Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama e disse-lhe: «Vai, lava-te na piscina de Siloé» que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver.
Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam: «Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?»
Uns diziam: «É ele mesmo!» Outros afirmavam: «De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia: «Sou eu mesmo!»
Então perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?»
Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: 'Vai à piscina de Siloé e lava-te.' Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!»
Perguntaram-lhe: «Onde está Ele?» Respondeu: «Não sei.»
Levaram aos fariseus o que fora cego.
O dia em que Jesus Cristo tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado.
Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes: «Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.»
Diziam então alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam: «Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles.
Perguntaram, então, novamente ao cego: «E tu que dizes dele por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu: «É um profeta!»
Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse até que chamaram os pais dele.
E perguntaram-lhes: «É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?»
Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego;
mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.»
Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias.
Por isso é que os pais disseram: 'Já tem idade, perguntai-lhe a ele'.
Chamaram então novamente o que fora cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!»
Ele, porém, respondeu: «Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.»
Eles insistiram: «O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?»
Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse e não me destes ouvidos porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos Seus discípulos?»
Então, injuriaram-no dizendo-lhe: «Discípulo d'Ele és tu! Nós somos discípulos de Moisés!
Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!» Replicou-lhes o homem:
«Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é e me tenha dado a vista!
Sabemos que Deus não atende os pecadores, mas se alguém honrar a Deus e cumprir a sua vontade, Ele o atende.
Jamais se ouviu dizer que alguém tenha dado a vista a um cego de nascença.
Se este não viesse de Deus, não teria podido fazer nada.»
Responderam-lhe: «Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições?» E puseram-no fora.
Jesus Cristo ouviu dizer que o tinham expulsado e, quando o encontrou, disse-lhe: «Tu crês no Filho do Homem?»
Ele respondeu: «E quem é, Senhor, para eu crer n'Ele?»
Disse-lhe Jesus Cristo: «Já o viste. É aquele que está a falar contigo.»
Então, exclamou: «Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante dele.
Jesus Cristo declarou: «
Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem, vejam e os que vêem, fiquem cegos.»
Alguns fariseus que estavam com Ele ouviram isto e perguntaram-lhe: «Porventura nós também somos cegos?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «Se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.»
Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja Comentário do Diatesseron, 16, 28-31
(a partir da trad. SC 121, pp. 299ss.)

«Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam»
«Fez lama com a saliva e ungiu-lhe os olhos». E a luz jorrou da terra, como no começo, quando [...] as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus Se movia sobre a superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz» e a luz foi feita (Gn 1, 2-3). Assim curou um defeito que existia desde a nascença para mostrar que Ele, cuja mão terminava aquilo que faltava à natureza, era Aquele que, com a Sua mão, tinha dado origem à Criação, no princípio. E como se recusavam a crer que Ele era antes de Abraão (Jo 8, 57), provou com esta acção que era o Filho d'Aquele que, com a Sua mão, «formou o homem do pó da terra» (Gn 2, 7).
Ele fez isso para aqueles que procuravam os milagres a fim de acreditarem: «Os judeus pedem sinais» (1Cor 1, 22). Não foi a piscina de Siloé que abriu os olhos ao cego tal como não foram as águas do Jordão que purificaram Naamã (2Rs 5, 14): foi a ordem do Senhor que realizou tudo. Mais do que isso, não é a água do nosso baptismo, mas os nomes da Trindade que se pronunciam sobre ela que nos purificam. Ele ungiu-lhe os olhos com lama para que os fariseus pudessem limpar a cegueira do seu coração. [...] Aqueles que viam a luz física foram conduzidos por um cego que via a luz do espírito; e, na sua noite, o cego era conduzido por aqueles que viam exteriormente, mas que eram espiritualmente cegos.
O cego lavou a lama dos seus olhos e viu-se a si próprio; os outros lavaram a cegueira do coração e examinaram-se a si mesmos. Assim ao abrir exteriormente os olhos de um cego, Nosso Senhor abria secretamente os olhos de muitos outros cegos. [...] Nestas poucas palavras do Senhor estavam escondidos tesouros admiráveis e, nesta cura, estava esboçado um símbolo: Jesus Cristo, o Filho do Criador.