quinta-feira, 2 de junho de 2011

Cristianismo 13

Livro de Isaías 49,8-15.

Eis o que diz o SENHOR: «Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação. Defendi-te e designei-te como aliança do povo para restaurares o país e repartires as heranças devastadas,
para dizeres aos prisioneiros: ‘Saí da prisão!’ E aos que estão nas trevas: ‘Vinde à luz!’ Ao longo dos caminhos encontrarão que comer e em todas as dunas arranjarão alimento.
Não padecerão fome nem sede e não os molestará o vento quente nem o sol porque o que tem compaixão deles os guiará e os conduzirá em direcção às fontes.
Transformarei os meus montes em caminhos planos e as minhas estradas serão alteadas.
Vede como eles chegam de longe! Uns vêm do Norte e do Poente e outros da terra de Siene.»
Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó Terra! Prorrompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o SENHOR consola o Seu povo e se compadece dos desamparados.
Sião dizia: «O SENHOR abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim.»
Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria.

Livro de Salmos 145(144),8-9.13-14.17-18.
O SENHOR é clemente e compassivo, é paciente e misericordioso.
O SENHOR é bom para com todos; a Sua ternura repassa todas as Suas obras.
O teu reino é um reino para toda a eternidade e o teu domínio estende-se por todas as gerações.
O SENHOR ergue todos os que caem e reanima todos os abatidos.

O SENHOR é justo em todos os Seus caminhos e misericordioso em todas as Suas obras.
O SENHOR está perto de todos os que O invocam, dos que O invocam sinceramente.

Evangelho segundo S. João 5,17-30.
Naquela altura, Jesus Cristo replicou-lhes: «O meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo!»
Perante isto, mais vontade tinham os judeus de o matar, pois não só anulava o Sábado, mas até chamava a Deus seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus.
Jesus Cristo tomou, pois a palavra e começou a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho.
De facto, o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que Ele mesmo faz e há-de mostrar-lhe obras maiores do que estas de modo que ficareis assombrados, pois assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver também o Filho faz viver aqueles que quer.
O Pai, aliás, não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento
para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é sujeito a julgamento, mas passou da morte para a vida.
Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora e é já em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão,
pois assim como o Pai tem a vida em si mesmo também deu ao Filho o poder de ter a vida em si mesmo;
e deu-lhe o poder de fazer o julgamento porque Ele é Filho do Homem (o Pai do Céu).
Não vos assombreis com isto: é chegada a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz
e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação.
Por mim mesmo, Eu não posso fazer nada: conforme ouço assim é que julgo; e o meu julgamento é justo porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
O Génesis em sentido literal, 4, 11-13 [21-24]
(a partir da trad. Bibliothèque Augustinienne, t. 48, DDB 1972, pp. 307ss. rev.)

«O Meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo!»
Gostaríamos de explicar como é possível compatibilizar o texto do Génesis onde está escrito que Deus repousou ao sétimo dia de todas as Suas obras, com o texto do evangelho onde o Senhor, por Quem todas as coisas foram feitas, diz: «O Meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo!» [...] A observância do sábado foi prescrita aos judeus para prefigurar o repouso espiritual que Deus prometeu aos fiéis que fizessem boas obras, repouso cujo mistério o Senhor Jesus Cristo confirmou com a Sua sepultura porque foi num dia de sábado que Ele repousou no túmulo, [...] depois de ter consumado todas as Suas obras.
Podemos pensar que Deus repousou de ter criado os diversos géneros de criaturas porque não voltou a criar novos géneros; mas [...] nem neste sétimo dia deixou de governar o céu, a Terra e todos os outros seres que tinha criado, pois de outra maneira eles ter-se-iam diluído no nada, porque o poder do Criador, a força do Omnipotente, é a causa pela qual subsistem todas as criaturas. [...] Com efeito, não se passa com Deus o mesmo que com um arquitecto que, concluída a casa, se afasta e [...] a obra subsiste. Pelo contrário, o mundo não poderia subsistir um instante que fosse, se Deus lhe retirasse o Seu apoio. [...]
É isto que afirma o apóstolo Paulo quando pretende anunciar Deus aos atenienses: «Nele vivemos, nos movemos e somos» (Act 17, 28). [...] Com efeito, não somos em Deus como a Sua própria substância, no sentido em que é dito que Ele «tem a vida em Si mesmo»; mas sendo algo diferente d'Ele, só podemos ser n'Ele porque Ele age desta maneira: «A Sua sabedoria estende-se de um extremo ao outro do mundo e governa o universo» (Sb 8, 1). [...] Nós vemos as obras boas que Deus fez (Gn 1, 31) e veremos o Seu repouso depois de termos realizado as nossas obras boas.
Livro de Êxodo 32,7-14.
O Senhor disse a Moisés: «Vai, desce, porque o teu povo, aquele que tiraste do Egipto, está pervertido. Desviaram-se bem depressa do caminho que lhes prescrevi. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto.»
O Senhor prosseguiu: «Vejo bem que este povo é um povo de cerviz dura.
Agora, deixa-me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-los-ei, mas farei de ti uma grande nação.»
Moisés implorou ao Senhor, seu Deus, dizendo-lhe: «Porquê, Senhor, a Tua cólera se inflamará contra o Teu povo que fizeste sair do Egipto com tão grande poder e com mão tão poderosa?
Não é conveniente que se possa dizer no Egipto: ‘Foi com má intenção que Ele os fez sair, foi para os matar nas montanhas e suprimi-los da face da Terra!’ Não te deixes dominar pela cólera e abandona a decisão de fazer mal a este povo.
Recorda-te de Abraão, de Isaac e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo: tornarei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e concederei à vossa posteridade esta terra de que falei e eles hão-de recebê-la como herança eterna.»
E o Senhor arrependeu-se das ameaças que proferira contra o seu povo.

Livro de Salmos 106(105),19-20.21-22.23.
Fizeram um bezerro de ouro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido.
Trocaram assim o seu Deus glorioso pela figura de um animal que come feno.
Esqueceram Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egipto,
maravilhas do país de Cam, feitos gloriosos no Mar dos Juncos.

Deus decidiu aniquilá-los. Moisés, porém, seu escolhido, intercedeu junto d'Ele, para acalmar a Sua ira destruidora.

Evangelho segundo S. João 5,31-47.
Jesus Cristo afirma: «Se Eu testemunhasse a favor de mim próprio, o meu testemunho não teria valor;
há outro que testemunha em favor de mim e Eu sei que o seu testemunho, favorável a mim, é verdadeiro.
Vós enviastes mensageiros a João e ele deu testemunho da verdade.
Não é, porém, de um homem que Eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para vos salvardes.
João era uma lâmpada ardente e luminosa e vós, por um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz.
Mas tenho a meu favor um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai me confiou para levar a cabo, essas mesmas obras que Eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou.
E o Pai que me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto,
nem a sua palavra permanece em vós, visto não crerdes neste que Ele enviou.
Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor.
Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida!
Eu não ando à procura de receber glória dos homens;
a vós, já vos conheço e sei que
não há em vós o amor de Deus.
Eu vim em nome de meu Pai e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis.
Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros e não procurais a glória que vem do Deus único?
Não penseis que Eu vos vou acusar diante do Pai; há quem vos acuse: é Moisés, em quem continuais a pôr a vossa esperança.
De facto, se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em mim porque ele escreveu a meu respeito.
Mas, se vós não acreditais nos seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?»
São Tiago de Sarug (c. 449-521), monge e bispo sírio Homilia sobre o véu de Moisés, 12-13 (a partir da trad. Coll. Peres dans la foi, nº66, Migne 1997, p. 225 rev.)

«Se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em Mim porque ele escreveu a Meu respeito»
Moisés enunciou os mistérios, mas sem os explicar. Com efeito, ele tinha dificuldade em falar e não conseguia exprimir-se claramente (Ex 4, 10). Esta dificuldade em falar foi-lhe conservada como desígnio para que todos os seus discursos permanecessem inexplicados. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo veio, soltou a língua de Moisés e hoje todas as suas palavras se tornaram distintas porque a sua língua não gagueja mais e os seus discursos são transparentes como o dia.
Até Nosso Senhor, a palavra estava entorpecida e permanecia sem explicação e tudo o que tinha sido dito a Seu respeito permanecia obscuro. O mistério permaneceu escondido por trás da gaguez e por trás do véu (Ex 34, 33; 2Cor 3, 14), enquanto não chegou a hora da sua proclamação ao dia claro.
Moisés pedira para ver o Pai (Ex 33, 18); com efeito, ele pressentia que o Filho viria mostrar-Se a este mundo. Foi então que o Pai lhe mostrou o reverso da Sua face; com isso, quis-lhe ensinar que o Seu Filho se manifestaria sob a aparência humana. O Eterno fez a Seu respeito uma distinção entre a face e o reverso para que Moisés reconhecesse que a Terra contemplaria o Seu Filho sob a forma de um homem. [...] Foi para Ele que Moisés olhou e foi d'Ele que veio o brilho com o qual resplandecia a pele do seu rosto (Ex 34, 29). O brilho do Filho repousava sobre toda a profecia [...]; quando Moisés falava, era Ele que falava pela sua boca porque Ele é a Palavra que inspirava todas as palavras da profecia. Sem Ele, não há para os profetas nem palavra nem revelação possível porque Ele é a fonte primeira da profecia. [...] Mas quando veio o Crucificado, o Esposo, a profecia revelou o seu rosto e elevou a voz no meio da assembleia. O Filho da Virgem levantou o véu que cobria os Hebreus e tudo se tornou claro, luminoso e fácil de interpretar.
Livro de Sabedoria 2,1.12-22.
Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: «Breve e triste é a nossa vida, não há remédio algum quando chega a morte e também não se conhece ninguém que tenha regressado do mundo dos mortos.
Armemos
laços ao justo porque nos incomoda e se opõe à nossa forma de actuar. Censura-nos as transgressões da Lei, acusa-nos de sermos infiéis à nossa educação.
Ele afirma ter o conhecimento de Deus e chama-se a si mesmo Filho do Senhor!
Ele tornou-se uma viva censura para os nossos pensamentos; só o acto de o vermos nos incomoda,
pois a sua vida não é semelhante à dos outros e os seus caminhos são muito diferentes.
Ele considera-nos como escória e afasta-se dos nossos caminhos como de imundícies. Declara feliz a sorte final do justo e gloria-se de ter a Deus por pai.
Vejamos, pois se as suas palavras são verdadeiras e que lhe acontecerá no fim da vida.
Porque, se o justo é filho de Deus, Deus há-de ampará-lo e tirá-lo das mãos dos seus adversários.
Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência e comprovar a sua resistência.
Condenemo-lo a uma morte infame, pois, segundo ele diz, Deus o protegerá.»
Estes são os seus pensamentos, mas enganam-se porque os cega a sua malícia.
Ignoram os desígnios secretos de Deus,
não esperam a recompensa da piedade e não acreditam no prémio reservado às almas simples.

Livro de Salmos 34(33),17-18.19-20.21.23.
A ira do SENHOR volta-se contra os malfeitores para apagar da Terra a sua memória.
Os justos clamaram e o SENHOR atendeu-os e livrou-os das suas angústias.
O SENHOR está perto dos corações contritos e salva os espíritos abatidos.
Muitas são as tribulações do justo, mas o SENHOR o livra de todas elas.

Ele guarda todos os seus ossos, nem um só será quebrado.
O SENHOR resgata a vida dos seus servos; os que n'Ele confiam não serão condenados.

Evangelho segundo S. João 7,1-2.10.25-30.
Depois disto, Jesus Cristo continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo.
Estava próxima a festa judaica das Tendas.
Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo.
Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam para o matar?
Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias?
Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.»
Entretanto, Jesus Cristo, ensinando no templo, bradava: «
Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou e que vós não conheceis.
Eu é que o conheço porque procedo d'Ele e foi Ele que me enviou

Procuravam então prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado.
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo Sermão 12, para a terça-feira antes dos Ramos
(a partir da trad. Cerf 1991, p. 44 rev.)

«Jesus Cristo partiu também para a festa [...], mas em segredo»
Jesus Cristo disse-lhes: «Para Mim ainda não chegou o momento oportuno; mas para vós qualquer oportunidade é boa. O mundo não pode odiar-vos; a Mim, porém, odeia-Me porque sou testemunha de que as suas obras são más. Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa porque o tempo que Me está marcado ainda não se completou» (Jo 7,6-8). O que é então esta festa à qual Nosso Senhor nos diz para irmos e cujo tempo é a qualquer momento? A festa mais elevada e a mais verdadeira, a festa suprema, é a festa da vida eterna, ou seja, a felicidade eterna onde estaremos verdadeiramente com Deus. Não o podemos ter aqui em baixo, mas a festa que podemos ter é antegozo daquela, uma experiência da presença de Deus no espírito pela alegria interior que nos dá um sentimento muito íntimo da mesma festa. O tempo que é sempre nosso é o de procurar Deus e de procurar o sentimento da Sua presença em todas as nossas obras, na nossa vida, no nosso querer e no nosso amor. Assim devemos ascender acima de nós mesmos e de tudo o que não é Deus, não querendo e não amando senão a Ele, em total pureza e nada de outra maneira. Este tempo é de todos os instantes.
Toda a gente deseja este autêntico tempo de festa da vida eterna; é um desejo natural porque todos os homens (e mulheres) querem naturalmente ser felizes. Mas não basta desejar. É por Ele mesmo que devemos seguir Deus e procurá-Lo. Muitos gostariam muito de ter o antegozo do verdadeiro e grande dia de festa e lamentam-se que não lhes seja dado. Quando, na oração, não fazem a experiência de um dia de festa no fundo de si próprios e não sentem a presença de Deus, entristecem-se. Rezam menos, fazem-no de mau humor, dizendo que não sentem Deus e que é por isso que a acção e a oração os aborrecem. Aí está o que o homem não deve fazer nunca. Nunca devemos fazer nenhuma obra desanimados porque Deus está sempre presente e, ainda que não O sintamos, todavia Ele veio secretamente à festa.

Livro de Jeremias 11,18-20.
O Senhor instruiu-me e eu entendi. E então vi com clareza o seu proceder para comigo.
E eu, como manso cordeiro conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor; arranquemo-la da terra dos vivos que o seu nome caia no esquecimento.»
Mas o Senhor do universo, justo juiz, sonda os rins e o coração. Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha causa.
Livro de Salmos 7,2-3.9-10.11-12.
SENHOR, meu Deus, a Ti me confio; livra-me de todos os que me perseguem e salva-me.
Que não me arrebatem como o leão e me dilacerem sem que ninguém me valha.
O SENHOR julga os povos; julga-me, então, SENHOR, segundo o meu direito e segundo a minha inocência.
Peço-te: acaba com a malícia dos ímpios; fortalece os que são justos, Tu, que perscrutas o íntimo dos corações, ó Deus de justiça!

A minha protecção está em Deus, que salva os de coração sincero.
Deus é um justo juiz que a todo o momento pode (atuar)
castigar.

Evangelho segundo S. João 7,40-53.
Então entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.»
Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?!
Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém donde era David?»
Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão por Sua causa.
Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão.
Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus que lhes perguntaram: «Porque é que não O trouxestes?»
Os guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!»
Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seduzidos?
Porventura acreditou n'Ele algum dos chefes ou dos fariseus?
Mas essa multidão que não conhece a Lei, é gente maldita!»
Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus Cristo e que era um deles, disse-lhes:
«Porventura permite a nossa Lei julgar um homem sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?»
Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.»
E cada um foi para sua casa.

João Paulo II Enciclica «Dives in misericordia», 7
(trad. © Libreria Editrice Vaticana)

«É o Messias»
O verdadeiro significado da misericórdia não consiste apenas no olhar por mais penetrante e mais cheio de compaixão que ele seja. [...] A misericórdia manifesta-se quando [...] tira bem de todas as formas de mal existentes no mundo e no homem. Entendida desta maneira, constitui o conteúdo fundamental da mensagem messiânica de Jesus Cristo. [...] A mensagem messiânica de Jesus Cristo e a Sua actividade entre os homens (e mulheres) terminam com a Cruz e a Ressurreição. [...] A dimensão divina da Redenção permite-nos descobrir [...] a profundidade do amor que não retrocede diante do extraordinário sacrifício do Filho para satisfazer a fidelidade do Criador e Pai para com os homens (e mulheres). [...]
Os acontecimentos de Sexta-Feira Santa e, ainda antes, a oração no Getsémani, introduzem uma mudança fundamental em todo o processo de revelação do amor e da misericórdia na missão messiânica de Jesus Cristo. Aquele que «passou fazendo o bem e curando a todos», e «sarando toda a espécie de doenças e enfermidades» (Act 10, 38; Mt 9, 35), mostra-Se agora, Ele próprio, digno da maior misericórdia e parece apelar para a misericórdia quando é preso, ultrajado, condenado, flagelado, coroado de espinhos, pregado na cruz e expira no meio de tormentos atrozes. É então que Ele Se apresenta particularmente merecedor da misericórdia dos homens a quem fez o bem; mas não a recebe. Nem aqueles que mais de perto contactaram com Ele, têm a coragem de O proteger e O arrancar à mão dos Seus opressores. Na fase final do desempenho da função messiânica, cumprem-se em Jesus Cristo as palavras dos profetas, e sobretudo as de Isaías, proferidas a respeito do Servo de Javé: «Fomos curados pelas Suas chagas» (53, 5). [...]
«Aquele que não conhecera o pecado, Deus tratou-O, por nós, como pecado», escrevia São Paulo (2Cor 5, 21), resumindo em poucas palavras toda a profundidade do mistério da Cruz e a dimensão divina da realidade da Redenção. É precisamente a Redenção a última e definitiva revelação da santidade de Deus que é a plenitude absoluta da perfeição.

Livro de Daniel 13,1-9.15-17.19-30.33-62.
Havia um homem chamado Joaquim que habitava na Babilónia.
Tinha desposado uma mulher de nome Susana, filha de Hilquias, muito bela e piedosa para com o Senhor,
pois tinha sido educada pelos pais, que eram justos, de harmonia com a lei de Moisés.
Joaquim era muito rico. Contíguo à sua casa, tinha um pomar e, com frequência, se reuniam em casa dele os judeus, pois que entre todos os seus compatriotas gozava de particular consideração.
Tinham sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo. A eles justamente se aplicava a palavra do Senhor: «A iniquidade veio da Babilónia, de anciãos e juízes, que passavam por dirigir o povo.»
Estas duas personagens frequentavam a casa de Joaquim onde vinham procurá-los todos os que tinham qualquer contenda.
À hora do meio-dia, quando toda esta gente se tinha retirado, Susana ia passear para o jardim do marido.
Os dois anciãos viam-na todos os dias, por ocasião do passeio, de maneira que a sua paixão se acendeu por ela.
Perderam a justa noção das coisas, afastaram os olhos para não olharem para o céu e não se lembrarem da verdadeira regra de conduta.
Um dia, como de costume, chegou Susana, acompanhada apenas por duas criadas e preparava-se para tomar banho no jardim, pois fazia calor.
Não havia aí ninguém senão os dois anciãos que, escondidos, a espiavam.
Disse às jovens: «Trazei-me óleo e unguentos e fechai as portas do jardim para eu tomar banho.»
Logo que elas saíram, os dois homens precipitaram-se para junto de Susana
e disseram-lhe: «As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê. Nós ardemos de desejo por ti. Aceita e entrega-te a nós.
Se não quiseres, vamos denunciar-te. Diremos que um rapaz estava contigo e que foi por isso mesmo que tu mandaste embora as criadas.»
Susana bradou angustiada: «Estou sujeita a aflições de todos os lados! Se faço isso, é para mim a morte. Se não o faço, nem mesmo assim vos escaparei.
Mas é preferível para mim cair em vossas mãos sem ter feito nada do que pecar aos olhos do Senhor.»
Susana, então, soltou altos gritos e os dois anciãos gritaram também com ela.
E um deles, correndo para as portas do jardim, abriu-as.
As pessoas da casa, ao ouvirem esta gritaria, precipitaram-se pela porta traseira para ver o que tinha acontecido.
Logo que os anciãos falaram, os criados coraram de vergonha, pois jamais se tinha dito coisa semelhante de Susana.
No dia seguinte, os dois anciãos, dominados pelo desejo criminoso contra a vida de Susana, vieram à reunião que tinha lugar em casa de Joaquim, seu marido.
Disseram diante de toda a gente: «Que se vá procurar Susana, filha de Hilquias, a mulher de Joaquim!» Foram procurá-la.
E veio com os seus pais, os filhos e os membros da sua família.
Choravam todos os seus assim como todos os que a conheciam.
Os dois anciãos levantaram-se diante de todo o povo e puseram a mão sobre a cabeça de Susana,
enquanto ela, debulhada em lágrimas, mas de coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu.
Disseram então os anciãos: «Quando passeávamos a sós pelo jardim, entrou ela com duas criadas e depois de ter fechado as portas, mandou embora as criadas.
Então, um jovem, que estava lá escondido, aproximou-se e pecou com ela.
Encontrávamo-nos a um canto do jardim. Perante semelhante atrevimento, corremos para eles e surpreendemo-los em flagrante delito.
Não pudemos ter mão no rapaz porque era mais forte do que nós, abriu a porta e escapou-se.
A ela apanhámo-la; mas, quando a interrogámos para saber quem era esse rapaz,
recusou responder-nos. Somos testemunhas disto.» Dando crédito a estes homens que eram anciãos e juízes do povo, a assembleia condenou Susana à morte.
Esta então em altos brados disse: «Deus eterno que sondas os segredos, que conheces os acontecimentos antes que se dêem,
Tu sabes que proferiram um falso testemunho contra mim. Vou morrer sem ter feito nada daquilo que maldosamente inventaram contra mim.»
Deus ouviu a sua oração.
Quando a conduziam para a morte, o Senhor despertou a alma límpida de um rapazinho chamado Daniel
que gritou com voz forte: «Estou inocente da morte dessa mulher!»
Toda a gente se voltou para ele e disse: «Que é que isso quer dizer?»
E dirigindo-se para o meio deles, afirmou: «Israelitas! Estais loucos para condenardes uma filha de Israel, sem examinardes nem reconhecerdes a verdade?
Recomeçai o julgamento porque é um falso testemunho o que estes dois homens declararam contra ela.»
O povo apressou-se a voltar. Os anciãos disseram a Daniel: «Vem, senta-te no meio de nós e esclarece-nos porque Deus te deu maturidade!»
Bradou Daniel: «Separai-os para longe um do outro e eu os julgarei.»
Separaram-nos. Daniel então chamou o primeiro e disse-lhe: «Velho perverso! Eis que se manifestam agora os pecados que cometeste outrora em julgamentos injustos,
ao condenares os inocentes, absolvendo os culpados quando o Senhor disse: ‘Não farás com que morra o inocente ou o justo.’
Vamos! Se realmente os viste, diz-nos debaixo de que árvore os viste entreterem-se um com o outro.» «Sob um lentisco.» – respondeu.
Retorquiu Daniel: «Pois bem! Aí está a mentira que pagarás com a tua cabeça. Eis que o anjo do Senhor, conforme a sentença divina, te vai rachar a meio!»
Afastaram o homem e Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: «Tu és um filho de Canaã e não um judeu. Foi a beleza que te seduziu e a paixão que te perverteu.
É assim que sempre tendes procedido com as filhas de Israel que, por medo, entravam em relação convosco. Uma filha de Judá, porém, não consentiu na vossa perversidade.
Vamos, diz-me: sob que árvore os surpreendeste em atitude de se unirem?» «Sob um carvalho.»
Respondeu Daniel: «Pois bem! Também tu forjaste uma mentira que te vai custar a vida. Eis que o anjo do Senhor, de espada em punho, se dispõe a cortar-te ao meio para vos aniquilar.»
Logo a multidão deu grandes brados e bendizia a
Deus que salva os que põem n'Ele a sua esperança.
Toda a gente então se insurgiu contra os dois anciãos que Daniel tinha convencido de falso testemunho pelas suas próprias declarações e deu-se-lhes o mesmo tratamento que eles tinham infligido ao seu próximo.
De harmonia com a lei de Moisés, mataram-nos. Deste modo, foi poupada naquele dia uma vida inocente.

Livro de Salmos 23(22),1-3.4.5.6.
O SENHOR é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do Seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A Tua vara e o Teu cajado dão-me confiança.

Preparas a mesa para mim à vista dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; a minha taça transbordou.
Na verdade, a Tua bondade e o Teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.

Evangelho segundo S. João 8,1-11.
Jesus Cristo foi para o Monte das Oliveiras.
De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus Cristo sentou-se e pôs-se a ensinar.
Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio
e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério.
Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?»
Faziam-lhe esta pergunta para O fazerem cair numa armadilha e terem de que O acusar. Mas Jesus Cristo, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra.
Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «
Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!»
E inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra.
Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus Cristo e a mulher que estava no meio deles.
Então Jesus Cristo ergueu-se e perguntou-lhe: «
Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?»
Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus Cristo: «
Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja Sermão 13

«Também Eu não te condeno»
Há um salmo que diz: «Deixai-vos instruir, juízes da Terra!» (Sl 2,10). Os que julgam na Terra são os reis, os governantes, os príncipes, os juízes propriamente ditos. [...] Que eles se instruam porque se trata da Terra que julga a Terra, mas ela deve temer Aquele que está no céu. Eles julgam os seus iguais: o homem julga um homem, o mortal, um mortal, o pecador, um pecador. Se Nosso Senhor Jesus Cristo fizesse ressoar, no meio desses juízes, esta sentença divina: «Que o primeiro que estiver sem pecado, atire a primeira pedra», não começariam a tremer todos aqueles que julgam na Terra?
Aos fariseus que, para O tentar, Lhe tinham trazido uma mulher surpreendida em adultério [...], Jesus Cristo disse: «Vós quereis lapidar esta mulher como está prescrito na Lei. Pois bem, que aquele de vós que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra». Enquanto O questionavam, escrevia na terra, para «instruir a terra»; mas, quando lhes deu esta resposta, levantou os olhos, «olhou para a terra e ela estremeceu» [Sl 104 (103), 32]. Os fariseus, confusos e a tremer, vão-se embora, um após outro. [...]
A pecadora ficou só com o Salvador: a doente com o médico, a grande miséria com a grande misericórdia. Olhando para esta mulher, Jesus Cristo diz-lhe: «Ninguém te condenou? ─ Ninguém Senhor» [...] Mas ela permanece diante de um juiz que não tem pecado. «Ninguém te condenou? ─ Ninguém Senhor, e se Tu próprio não me condenares, estou em segurança». Silenciosamente, o Senhor responde a esta inquietação: «Também Eu não te condeno. [...] A voz da consciência impediu os acusadores de te punirem; a misericórdia incita-Me a vir em teu socorro». Meditai nestas verdades e «deixai-vos instruir, juízes da Terra».

Livro de Números 21,4-9.
Naqueles dias, os filhos de Israel partiram do monte Hor para o mar Vermelho, contornando a terra de Edom.
O povo falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto? Foi para morrer no deserto onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?»
Mas o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes que mordiam o povo e por isso morreu muita gente de Israel.
O povo foi ter com Moisés e disse-lhe: «Pecámos ao protestarmos contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor para que afaste de nós as serpentes.» E Moisés intercedeu pelo povo.
O Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.»
Moisés fez, pois uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia.

Livro de Salmos 102(101),2-3.16-18.19-21.
SENHOR, escuta a minha oração e chegue junto de Ti o meu clamor!
Não me ocultes o Teu rosto no dia da aflição. Inclina para mim o Teu ouvido; no dia em que Te invocar, responde-me sem demora!
Os povos honrarão, SENHOR, o Teu nome e todos os reis da terra, a Tua majestade.
Quando o SENHOR reconstruir Sião e manifestar a Sua glória,

há-de voltar-se para a oração do indigente e não desprezará as suas súplicas.
Escrevam-se estas coisas para as gerações futuras e os que hão-de nascer louvarão o SENHOR.
O SENHOR observa do alto do Seu santuário; lá do céu, Ele olha para a Terra,
para escutar os gemidos dos cativos e livrar os condenados à morte.

Evangelho segundo S. João 8,21-30.
Naquele tempo, Jesus Cristo disse aos fariseus: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou.»
Então os judeus comentavam: «Será que Ele se vai suicidar, dado que está a dizer: 'Vós não podeis ir para onde Eu vou'?»
Mas Ele acrescentou: «
Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo.
Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados

Perguntaram-lhe então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus Cristo: «
Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer!
Tenho muitas coisas que dizer e que
julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou e que é verdadeiro
Eles não perceberam que lhes falava do Pai.
Disse-lhes, pois Jesus Cristo: «
Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou.
E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só porque faço sempre aquilo que lhe agrada.
»
Quando expunha estas coisas, muitos creram n'Ele.

São João Crisóstomo (c. 345-407), Bispo de Antioquia e, mais tarde, de Constantinopla, Doutor da Igreja. Catequeses baptismais, n° 3, 16ss. (a partir da trad. bréviaire rev.; cf SC 50 bis, pp. 160ss.)

«Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou»
Queres saber que força se esconde no sangue de Jesus Cristo? Vê de onde foi que ele começou a correr e qual é a sua origem: vem da cruz, do lado do Senhor. Estando Jesus Cristo já morto, diz o evangelho, mas ainda suspenso da cruz, veio um soldado «e abriu-Lhe o lado com um golpe de lança e d'Ele saiu sangue e água» (Jo 19, 33-34). Esta água era o símbolo do baptismo e o sangue, o símbolo dos mistérios eucarísticos. [...] Foi, pois um soldado que Lhe abriu o lado, perfurando a muralha do templo santo e eu encontrei este tesouro e fiz dele a minha fortuna. [...]
«E dele saiu sangue e água». Não passes com indiferença por este mistério. [...] Já te disse que esta água e este sangue são símbolo do baptismo e dos mistérios eucarísticos. Ora a Igreja nasceu destes dois sacramentos: deste banho do renascimento e da renovação no Espírito, ou seja, do baptismo, e dos mistérios. Mas os sinais do baptismo e dos mistérios saíram do lado de Jesus Cristo; consequentemente, Jesus Cristo constituiu a Igreja a partir do Seu lado, tal como formara Eva a partir do lado de Adão (Gn 2, 22).
É por isso que Paulo afirma: Somos da Sua carne e dos Seus ossos (cf Act 17, 29; Gn 2, 23), designando desse modo o lado do Senhor Jesus Cristo. Com efeito, assim como o Senhor tomou carne do lado de Adão para formar a mulher, assim também Jesus Cristo nos deu o sangue e a água do Seu lado para formar a Igreja. E assim como retirou a carne do lado de Adão enquanto este dormia, assim também nos deu o sangue e a água depois da Sua morte [...] porque desde agora a morte é um simples sono. Vistes como foi que Jesus Cristo Se uniu à Sua esposa? Vistes que alimento nos dá a todos? Foi deste alimento que nascemos, é com ele que nos alimentamos. Assim como a mulher gera os filhos do seu próprio sangue e os alimenta com o seu leite assim também Jesus Cristo alimenta constantemente com o Seu sangue aqueles que gerou.

Livro de Daniel 3,14-20.91-92.95.
Disse-lhes Nabucodonossor: «Chadrac, Mechac e Abed-Nego, é verdade que rejeitais o culto aos meus deuses e a adoração à estátua de ouro erigida por mim?
Pois bem! Estais dispostos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de qualquer outro instrumento musical, a prostrar-vos em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis logo lançados dentro da fornalha ardente. E qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?»
Chadrac, Mechac e Abed-Nego responderam ao rei Nabucodonosor: «Não vale a pena responder-te a propósito disto.
Se isso assim é, o Deus que nós servimos, pode livrar-nos da fornalha incandescente e até mesmo, ó rei, da tua mão.
E ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto aos teus deuses e que não adoramos a estátua de ouro que tu levantaste.»
Então explodiu a fúria de Nabucodonossor contra Chadrac, Mechac e Abed-Nego; a expressão do seu rosto mudou e levantou a voz para mandar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume.
Em seguida, ordenou aos soldados mais vigorosos do seu exército que amarrassem Chadrac, Mechac e Abed-Nego a fim de os lançar na fornalha incandescente.
Então o rei Nabucodonossor, estupefacto, levantou-se repentinamente, dizendo para os seus conselheiros: «Não foram três homens, atados de pés e mãos, que lançámos ao fogo?» Responderam eles ao rei: «Com certeza».
«Pois bem –replicou o rei – vejo quatro homens soltos, que passeiam no meio do fogo, sem este lhes causar mal; o quarto tem o aspecto de um filho de Deus.»
Nabucodonossor, tomando a palavra, disse: «Bendito seja o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego!
Ele enviou o seu anjo para libertar os seus servos que, confiando n'Ele, expuseram a vida, transgredindo as ordens do rei antes que prostrarem-se em adoração diante de um outro deus que não fosse o Deus deles.

Livro de Daniel 3,52.53.54.55.56.
«Bendito sejas, Senhor, Deus de nossos pais:– digno de louvor e glória eternamente! Bendito seja o Teu nome santo e glorioso:– digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
Bendito sejas no templo da Tua santa glória: – digno de supremo louvor e glória eternamente!
Bendito sejas por penetrares os abismos, sentado sobre os querubins: – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
Bendito sejas no Teu trono real: – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!
Bendito sejas no firmamento dos céus:– digno de supremo louvor e glória eternamente!

Evangelho segundo S. João 8,31-42.
Então, Jesus Cristo pôs-se a dizer aos judeus que nele tinham acreditado: «Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos,
conhecereis a verdade e
a verdade vos tornará livres
Replicaram-lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém! Como é que Tu dizes: 'Sereis livres'?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «
Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é servo do pecado
e o servo não fica na família para sempre; o filho é que fica para sempre.
Pois bem, se o Filho vos libertar, sereis realmente livres.
Eu sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me porque não aderis à minha palavra.
Eu comunico o que vi junto do Pai e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai

Eles replicaram-lhe: «O nosso pai é Abraão!» Jesus Cristo disse-lhes: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão!
Agora, porém, vós pretendeis matar-me, a mim, um homem que vos comunicou a verdade que recebi de Deus. Isso não o fez Abraão!
Vós fazeis as obras do vosso pai.» Eles disseram-lhe então: «Nós não nascemos da prostituição. Temos um só Pai que é Deus.»
Disse-lhes Jesus Cristo: «
Se Deus fosse vosso Pai, ter-me-íeis amor, pois é de Deus que Eu saí e vim. Não vim de mim próprio, mas foi Ele que me enviou.
Catecismo da Igreja Católica §§ 214-219
«Conhecereis a verdade»
Deus, «Aquele que É», revelou-Se a Israel como Aquele que é «cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex 34, 6). Estas duas palavras exprimem, de modo sintético, as riquezas do nome divino. Em todas as Suas obras, Deus mostra a sua benevolência, a Sua bondade, a Sua graça, o Seu amor; mas também a Sua credibilidade, a Sua constância, a Sua fidelidade, a Sua verdade. [...]
Deus é a verdade. «A verdade é princípio da Vossa palavra, é eterna toda a sentença da Vossa justiça» (Sl 119, 160). «Decerto, Senhor Deus, Vós é que sois Deus e dizeis palavras de verdade» (2 Sm 7, 28); é por isso que as promessas de Deus se cumprem sempre. Deus é a própria verdade; as Suas palavras não podem enganar. É por isso que nos podemos entregar com toda a confiança e em todas as coisas à verdade e à fidelidade da Sua palavra. O princípio do pecado e da queda do homem foi uma mentira do tentador que o levou a duvidar da palavra de Deus, da Sua benevolência e da Sua fidelidade (Gn 3, 1).
A verdade de Deus é a Sua sabedoria que comanda toda a ordem da criação e o governo do mundo. Só Deus – que criou o céu e a Terra – pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas, criadas na sua relação com Ele. Deus é igualmente verdadeiro quando Se revela: todo o ensinamento que vem de Deus é «doutrina de verdade» (Ml 2, 6). Quando Ele enviar o Seu Filho ao mundo, será «para dar testemunho da verdade» (Jo 18, 37): «Sabemos [...] que veio o Filho de Deus e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro» (1 Jo 5, 20).
Deus é amor. [...] O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor dum pai para com o seu filho (Os 11, 1). Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus filhos (Is 49, 14-15). Deus ama o Seu povo mais do que um esposo a sua bem-amada (Is 62, 4-5); este amor vencerá mesmo as piores infidelidades e chegará ao mais precioso de todos os dons: «Deus amou de tal maneira o mundo que lhe entregou o Seu Filho Único» (Jo 3, 16).


Sem comentários:

Enviar um comentário